quinta-feira, 31 de maio de 2007

Algumas espontâneas honestidades em dia de greve alegadamente geral!

Reparo nalgumas das notícias que me vão chegando à caixa de correio e noutras das parangonas da mediocracia destes 'brandos costumes'.

Duas delas me chamaram a atenção:
1. A juventude com ares de grande maturidade expressa com alguma pública coragem por este 'menino com coração de oiro' (ai se o SLB tivesse o dinheiro do Manchester FC!?):

«(...) "Sei o meu valor. No Manchester irei realizar o mesmo trabalho que desenvolvi no FC Porto e se possível ainda melhor, porque quero dar expressão ao sonho. Quero que tudo dê certo. Estou preparado para tudo. A motivação é muita. E depois, o facto de ir jogar na mesma equipa desse grande jogador que é o Cristiano Ronaldo, assim como o Rooney e tantos outros, e ser treinador por Alex Ferguson é algo que só conseguia imaginar e que agora vou poder concretizar. O que posso dizer? É um sonho do tamanho do Mundo", concluiu Anderson.»

2. A doutoral 'aula' de Economia Social de mais este "biqueiro" do Jornal de Negócios, que não me inibo nem me coíbo de aqui a transcrever:

"Os novos luditas
Leonel Moura

São cada vez mais frequentes os discursos contra as novas tecnologias. Não é novidade histórica pois sempre se reagiu à inovação. A mudança causa sempre perturbações e terrores. Acima de tudo naturalmente nos sectores mais conservadores e instalados mas por vezes também nas vanguardas culturais e políticas.

Basta pensar nos luditas, esse importante movimento social do século XIX que se bateu contra a introdução no sector dos têxteis da nova maquinaria criada pela revolução industrial. Além da argumentação política e reivindicativa os luditas dedicavam-se igualmente à destruição das máquinas que viam como ameaça ao seu modo de existência. E tinham alguma razão. Qualquer nova tecnologia representa invariavelmente o extermínio das tecnologias que lhe antecederam. Quem não se lembra ainda das "velhas" máquinas de escrever tornadas subitamente obsoletas com o aparecimento do computador? E quantas fábricas destas máquinas e suas componentes faliram criando instabilidade social e desemprego? Além dos benefícios, as inovações geram com frequência vastas crises sociais, já que o tempo de implementação das tecnologias é frequentemente mais veloz do que o tempo de adaptação dos homens a elas.

Portanto, que estes processos têm o seu lado negativo é uma evidência. Não se pode alterar irremediavelmente modos de vida e a própria percepção que temos das coisas e do mundo sem sofrer alguma dramáticas consequências. Mas é preciso distinguir a usual resistência ao novo, dos argumentos críticos inteligentes e sérios que em si mesmo ajudam à evolução.

Um novo tipo de ludismo prolifera, afectando tanto direita quanto esquerda, umas vezes por medo de liberdade, outros em pretensa defesa de direitos, costumes e memórias do que já não existe. Não há por exemplo dia que passe que não se ouça falar dos perigos da Internet, principalmente para as crianças, da denúncia dos jogos violentos, do Second Life, afinal uma evolução "natural" do virtual e do VRML, ou da dependência telemóvel dos adolescentes. Em particular a muita gente continua a meter medo a existência de um espaço de grande liberdade, como a Internet, onde cada um pode colocar as suas ideias, opiniões e também naturalmente fantasias e perversões. E neste último caso sempre é melhor exibi-las do que escondê-las, para que se conheçam e possam tratar social e clinicamente. Outros não vêem nos avanços tecnológicos mais do que as garras do capitalismo que a todos querem vender a moto, como escreveu Ignacio Ramonet e de passagem controlar consciências e destinos.

A outro nível, mais relevante, surgem os medos das máquinas e da inteligência artificial e ainda mais fortemente as questões éticas sobre a vida e a morte ou os perigos da manipulação genética com o reavivar desse sempre eterno projecto de eugenia. É aliás neste domínio que a controvérsia é maior e nem sempre a melhor, já que frequentemente contaminada por crenças, fantasmas e muita ignorância.

A evolução do humano não é obra exclusiva da natureza. Com a cultura e a capacidade de transmitir conhecimentos de geração em geração o humano é também um produto evolutivo de si próprio. Isso permitiu-lhe, por exemplo, adaptar-se a condições ambientais extremas para as quais a sua pele natural não está preparada. Mas hoje essa ampliação das capacidades herdadas, no fenótipo, o corpo e no genótipo, os genes, encontra-se em franca expansão e é objecto de poderosos meios de investimento e investigação. São as múltiplas próteses que se vão agarrando ao nosso corpo, as drogas que melhoram a performance, a engenharia vária que nos prolonga a vida já a rondar o centenário. E a própria inteligência que se acelera com a ajuda de engenhos por nós criados. Hoje um homem e o seu computador constituem juntos uma tremenda máquina sinergética de raciocínio e criatividade. Amanhã um homem estimulado e acompanhado por um robot inteligente fará coisas que por si só nunca seria capaz.

Os luditas de hoje atacam a Internet e temem todas as inovações, da genética à robótica. Têm alguma razão no sentido em que assistem impotentes a transformações que provocam instabilidade e insegurança geral. Mas mais uma vez falham o alvo, porque a evolução humana e tecnológica não podem parar e muito menos simplesmente rebentando dois ou três infelizes computadores."

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