quarta-feira, 28 de março de 2007

Escutando JAM do Outro lado do Atlântico ...

Que venha luz, desse lado de Vera Cruz!
É! Heh! A rima não foi propositada, mas vem mesmo a calhar, como viria mesmo em boa altura uma outra espécie de augúrio para a nossa felicidade. Mas, enquanto tal não nos parece vir acontecendo, vamo-nos contentando com algumas evocações, mesmo que com alguma nostalgia, do que já há muito (tenho-o repetido e continuarei a fazê-lo nesta minha rúbrica sobre libertação através da música) consta do repertório social de queixas contidas nas letras de muitas composições musicais.
Por isso, deixo a JAM, para o outro lado do mar, para aquela parte ainda Unida à armilar sina da nossa estirpe cutural, este bonito e significativo trecho, auspicioso para quem continua a esperar, nessa duradoura esperança de melhores dias (talvez se o cenário ali descrito se concretizasse, quem hoje poderá dizê-lo?), de um outro Sol, de poder ser melhor SER! Oxalá:







MOODY BLUES lyrics

Eu diria 'répétition', ou o "mito do eterno retorno"!

É o que melhor me vem à ideia, para tentar retratar os episódios com que a mediocracia tenta festejar, com fogo de hipocrisia, o desfecho algo insólito (?) ou inesperado (?) deste televisionado concurso dos "Grandes Portugueses", de onde saiu eleito (qual acto eleitoral) o antigo Presidente do Conselho de Ministros António de Oliveira Salazar. Mesmo com uma aproximação mais realista dos apontamentos de meu antigo colega AC Pinto, neste artigo do JN (ver link acima).



Para mim, que escolheria o Infante da Escola de Sagres (...), trata-se de uma repetição (do francês 'répétition', acto de redizer, de reiterar, de reflectir os sons, a luz; ensaio, prática repetitiva), termo cujos significados me reportam para os mitos do retorno, cujas manifestações a que assistimos não possam ser mais que esse 'ensaio' geral (colectivo, social) de mais um mítico retorno do tão desejado messias! Tal é a situação social do país, independentemente da formação político-partidária que o governe! É um problema (e este foi o sintoma declarado, já não omitido) de rejeição do sistema!



Vejo que não me engano ao ler algumas na imprensa de ontem, tão fugazes que nem dá para acreditar em tamanha 'amarelice' medriqueira, como autênticos píncaros de hipocrisia envernizada pelo público statu dos emplastros mediocratas: desde os justificadores da História, até aos economistas 'de bancada', que nem José Hermano Saraiva escapou, ao tecer conclusões tão contraditórias como as que sintetizou, como outros, do tipo 'é o reflexo do desconhecimento da nossa História', mas ... consequência do facto de Salazar 'ter sido o único estadista a morrer pobre ..., que soube evitar uma grande guerra, ...' (veja-se o JN de ontem, 26 de Março de 2007).


Prefiro continuar a seguir Mircea Eliade, no seu Mito do Eterno Retorno, quando refere a recusa que as sociedades tradicionais "fazem do tempo histórico e pela nostalgia que elas sentem do tempo mítico das origens", pois, como refere o autor desta distinta obra, "... ao estudarmos essas sociedades tradicionais, surpreendeu-nos sobre tudo um aspecto: a sua revolta contra o tempo concreto, histórico, a sua nostalgia de um regresso periódico ao tempo mítico das origens, à Idade do Ouro. Só descobrimos o significado e a função daquilo a que chamamos «arquétipos e repetição» quando compreendemos a vontade que essas sociedades tinham de recusar o tempo concreto e a sua hostilidade em relação a qualquer tentativa de «história» autónoma, isto é, de história sem regulação arquetípica".



Mas já se vêem alguns a proclamar a falta de educação, do ensino da História em Portugal! Que os portugueses não têm sensibilidade histórica, veja-se, que é apenas o fruto da possível memória recente (ainda que daqui algo se aceite). Mas também não creio que esse seja argumento que colha cabimento na necessária interpretação, explícita e intelectualmente, honesta, que um julgamento imparcial deste evento merece (mesmo não recorrendo a vícios do cientismo): "... Esta recusa não é simplesmente o efeito das tendências conservadoras das sociedades primitivas ... dever-se-á ver nesta depreciação da história, ou seja, dos acontecimentos sem modelo trans-histórico ... uma certa valorização metafísica da existência humana. Mas esta valorização não é, de modo nenhum, a mesma que certas correntes filosóficas pós-hegelianas tentam dar, nomeadamente o marxismo, o historicismo e o existencialismo, depois da descoberta do «homem histórico», do homem que existe na medida em que se faz a si próprio no seio da história." 1

(1) ELIADE, Mircea, O Mito do Eterno Retorno, Introdução, Edições 70, Lisboa, 1984, pp. 11 e 12.

segunda-feira, 26 de março de 2007

Sobre a memória colectiva, nestes pequenos dias de 'grandes portugueses'

"Dos fracos não reza a história"!!!

Muito teria de recordar, a montante e a jusante da verdade histórica sobre tão ilustre personagem da nossa história colectiva, como é a do ex-Presidente do Conselho de Ministros António de Oliveira Salazar (também se pode ver o que hoje diz o meu mui citado mestre JAM): a montante, sobre as causas que permitiram que a exuberância do seu carisma se plasmasse na adesão massissa dos vários quadrantes sócio-ideológicos daqueles tempos de rescaldo da 1ª República (...); a jusante, sobre as consequências que, principalmente a partir do isolamento internacional do regime criado pelo Estado Novo, assim como dos desiquilíbrios internos advindos da obsolescência do respectivo sistema nacional, se fizeram sentir no oportunismo daqueles que o regime então evitava, que mais não são que os mesmos que, hoje, fazem com que, na consciência da maioria dos portugueses, se repita o que em 1926 era inevitável: a chegada de um qualquer 'dom sebastião', qual messias salvador para tamanha catástrofe nacional, que agora também se vive!
Creio-me insuspeito, para os que realmente me conhecem, sobre a minha opinião a respeito deste homem de Estado que foi Salazar. O mesmo já não direi de M. Caetano, se bem que não o contraponha, apenas distinga. Mas daí a Salazar ser o maior português de todos os tempos, ... ?! Não posso esquecer:
- o episódio de 1958 (ao colo de minha saudosa tia-avó Amélia, em Guimarães, tinha eu 4 anos, fugia o povo à frente das investidas a espada da cavalaria da GNR, procurando euforicamente uma porta onde se enfiar, tal o pânico criado na população que então se reuniria para o que deveria ter chegado a ser um comício a favor de Humberto Delgado ...);
- a disciplina antipedagógica que se vivia nas salas de aula, em estabelecimentos de ensino onde o separatismo do género humano criava um pseudo mito da castidade sexual;
- a polícia política que, por eu ter participado em "actividades estudantis subsbersivas para a ordem da Nação", me expulsou do Liceu e me proibiu de estudar em estabelecimentos públicos de ensino; etc.; etc..
Por isso direi, mais uma vez, que estes dias, tão estranhos que já não admira tamanha estranheza (pois a memória colectiva a que, forçosamente, nos fomos habituando, não se compadece com as fraquezas indiduais que o esquecimento constrói), estão nesse contraponto das pseudo-verdades que se querem sobrepôr ao espírito imanente, essa Vontade que está, congenitamente, na personalidade social dos povos.
E, neste contexto, faz-me o presente episódio evocar, também ao jeito historiográfico, a mensagem musicológica deste trecho dos Moody Blues:








MOODY BLUES lyrics

domingo, 11 de março de 2007

Hino às vontades dos tempos

Deambulações de um português em Portugal

Vejo-me entorpecido neste deambular, de atestado médico na mão, entre serviços de saúde, processos disciplinares, a Escola onde exerço e o aconchego de minha casa, para descanso das maleitas que fazem felizes alguns do tal ditirambo ...! Mas como não caí em concreta paranóia, valha-me Deus e me livre de tal diabólica sina, vou trabalhando, mesmo nas condições presentes, nessa promessa de transmitir o resultado de alguns elementos de avaliação aos meus alunos , que são o grande móbil de tão vasto empreendimento, como é o caso desta ministerial missão que é EDUCAR!
E também me vejo nas palavras proferidas sobre estes Horizontes da Academia, e subscrevo, finalmente, o que diz este nosso ex-PM acerca da situação docente, neste sistema de micros anti-sistemas educacioneses:
"Há que continuar a avaliar escolas e professores

Rui Machete
Advogado

Têm-se tornado cada vez mais frequentes os alertas e os apelos para a necessidade de mudança e de mudança rápida em múltiplos sectores da vida portuguesa, se pretendermos não ficar para trás nesta concorrência cada vez maior que a economia e a sociedade globais nos impõem. A médio prazo, o que está em jogo é o bem-estar dos portugueses, mas, ainda mais importante, a sua autonomia cultural e política como povo com uma História longa e rica e uma identidade bem vincada.
Estes desafios exigem capacidade de entender colectivamente as dificuldades e uma vontade firme de as vencer. Implicam também o reconhecer que faz uma enorme diferença querer tomar o destino nas mãos e lutar por objectivos ambiciosos, embora realistas, ou assumir a resignação agridoce da pretensa inevitabilidade do fado.
O voluntarismo animado por uma forte determinação remove montanhas, a apatia do conformismo, do argumento "de que sempre foi assim", gera a incapacidade para progredir.
A educação é, porventura, em Portugal um dos domínios onde melhor se pode observar o contraste entre as duas atitudes: a predominantemente conservadora e a voluntarista, desejosa de modificar estruturas e hábitos anquilosados, e interesses instalados que procuram perpetuar-se a todo o custo.
Mudar é penoso, envolve sacrifícios. É sempre mais cómodo continuar como se tem feito desde há muito, gozar as benesses que o longo tempo e a habituação fazem sentir como naturais e direitos intangíveis.
Para conseguir reformas, mudar, é imprescindível conhecer bem a situação, as deficiências, porque é que as coisas vão mal.
A avaliação das instituições, das suas capacidades de se atingir os objectivos, é, assim, fundamental. A medição dos resultados constitui um ponto essencial dessa avaliação. O ex-governador Jeff Bush, de visita entre nós, em recente conferência sobre a reforma educativa na sua Florida, dizia enfaticamente: "Quem não mede não se preocupa com as coisas." A comparação de resultados entre instituições congéneres representa outro passo essencial nesse processo.
Todos nos recordamos de quão difícil foi, já nos anos 90 do século passado, convencer o Ministério da Educação, temeroso dos sindicatos, a medir a actividade do ensino das escolas, primeiro, a dar a conhecer esses resultados ao público, depois. Foi necessária uma injunção judicial para o conseguir!
Vencida essa primeira etapa, há que ir mais longe: alargar e aprofundar essas medidas e avaliações e, sobretudo, retirar daí resultados em termos de carreira dos professores e das remunerações, e também de oportunidades oferecidas às escolas mais eficientes. E fazê-lo a todos os níveis de ensino: primário, secundário e superior, mesmo que sejam da regedoria de diversos ministros.
O aumento do nível de exigência é sempre tarefa delicada. Algumas injustiças inevitavelmente se cometerão. É preciso, também, ajudar os mais fracos, mas de boa vontade, ou que enfrentem condições económicas adversas. Mas não pode deixar de se prosseguir nas avaliações e daí retirar consequências, sob pena de permanecermos nas inevitáveis mediocridade e ineficiência. Isto, digam o que disserem os beneficiários do statu quo e os sindicatos que os representam.
A actual ministra da Educação criou uma grande esperança. Precisa, é certo, de corrigir alguns erros de comunicação, logo sublinhados com gáudio por quem pretende que tudo fique na mesma. Mas espero que prossiga o caminho que encetou, de bom senso, coragem e seriedade e que não nos desiluda. Deu já algumas provas importantes de que existe razão para confiar."
(o negrito é da responsabilidade do Publicista)
Entretanto, dou de caras com esta relíquia (de 1970!) que vou ouvindo, enquanto trabalho, nas presentes condições, de atestado médico na mão, entre processos disciplinares, a Escola onde trabalho, serviços de saúde e o aconchego de minha casa, tentando cumprir a promessa que fiz ... aos meus alunos!!!




STEVENS CAT lyrics


Beijinhos à minha IRIS, neste 'seu' bonito Domingo de Março!

sexta-feira, 9 de março de 2007

Eternos ciclos, míticos retornos!

Já tenho evocado, também muito a propósito do que meu mui citado mestre escreve sobre este estado a que o espectáculo chegou, as contingências do inevitável, segundo as muito antigas escrituras políticas platónicas, muito aristotelicamente reformuladas, onde se enunciam as leis da degenerescência da polis, sem entrar em plágio desse Mito do Eterno Retorno, do grande Mircea Eliade.
Hoje, e já depois de ter lido mais algumas de meu supra citado mestre (e a respeito da de hoje), não posso deixar de passar mais uma evocação ao malogrado Jim Morrison, quando este seu desabafo nos induz numa celestial celebração de tudo quanto são os infortúnios que, constantemente, vemos estarem a assolar o quotidiano das nossas vidas. Apenas com um senão: estes dias que temos evocado já não são, assim, tão estranhos (...)!!!
Aqui vos deixo, então, mais esta de 1967 (poderia ser de 2067 ?):







DOORS, THE lyrics

terça-feira, 6 de março de 2007

Em busca do equilíbrio perdido (!?)

Nestes tempos de grandes encruzilhadas, resta-nos, ainda, a esperança que, nas décadas de 60 e 70, tinha começado a fazer a tão "evitada" mas esperada revolução. Se nunca aconteceu, é porque não há povo que a mereça, pois não é por falta de evocação das razões e, muito mais ainda, não é por não terem sido sublimadas essas razões ao mais alto nível do espírito dos interessados que as mensagens de mudança não foram devidamente assimiladas.


Veja-se, a título de exemplo, hoje aqui com esta dos Moody Blues (Question Of Balance - 1970), como já se gritavam (a fazer ecos de inconformismo) os males 'de alma' (social?) que, hoje, parecem estar, simplesmemte ... na moda! Por outras palavras, parafraseando meu mui citado mestre JAM, a felicidade ainda não consta das Constituições? Porquê?







MOODY BLUES lyrics


PS: Para quem seguir a tentação de fazer a tradução da letra, aconselha-se a não o fazer na versão 'em calão', para usar uma expressão frequentemente tida a propósito de algumas mentes hiper esclarecidas! Nestes casos dispensa-se a tradução, ou mesmo a letra, ou mesmo a mensagem ... dispensa-se tudo, pois esses já não precisam de nada ... (?) ... nunca precisaram de nada!!! «Eles têm tudo, eles têm tudo, eles têm tudo e não vêm nada» (!?)
(Letra retirada do Goggle)