terça-feira, 29 de agosto de 2006

Em memória do Professor Doutor José Maria Gaspar ...

Que, na cadeira de Direito Administrativo, nos ensinou que, nesta terceira República, vivemos uma autêntica "diarreia legislativa". E não é que ele lá tinha as suas razões, teóricas e retóricas? Quantas bastasse para, mesmo à margem de uma definição científica da provérbica expressão, se constatar que o caminho que os procesos legislativos têm seguido (latamente entendidos com todos os factores que os contornam em consideração) só comprova aquela que quase pode ser uma máxima para os políticos actuais: "o que hoje é verdade, amanhã pode ser mentira"!!! em mais esta do Jornal de Negócios.
"Cair na real
Luísa Bessa
O que nasce torto tarde ou nunca se endireita. Diz o ditado popular e deve ser verdade. O dito aplica-se neste caso ao Código do Trabalho.
Nascido do ímpeto reformista do Governo de Durão Barroso, que como se sabe não resistiu a dois anos de crise económica, o Código foi apresentado para revolucionar das leis do trabalho em Portugal, contribuindo para uma maior flexibilidade e por essa via para o aumento da competitividade da economia.
Os objectivos eram justos mas depois de mais de um ano de discussão, o resultado final ficou aquém das expectativas. Foi a consequência da via sacra da política em Portugal: contestação sindical incluindo uma greve geral, e já depois de aprovado, da passagem pela fiscalização preventiva do Tribunal Constitucional, que declarou inconstitucionais alguns artigos.
Expurgado de inconstitucionalidades, o Código entrou em vigor em Dezembro de 2003. Desde então, ao contrário do que vaticinavam as centrais sindicais, nenhuma revolução varreu as relações laborais em Portugal. Tudo como dantes, neste país de brandos costumes. E ainda haveremos de ver os que o atacaram a defendê-lo, em nome dos direitos adquiridos...
A relação do PS com o Código também é ambivalente. Em 2003, como maior partido da Oposição, votou contra. Na campanha para as legislativas de 2005 fez da revisão antecipada uma das suas principais bandeiras, que verteu na íntegra no programa do Governo.
O Governo, que pretendia equilibrar a relação de forças entre trabalho e capital, protegendo os trabalhadores, comprometia-se a seguir «uma estratégia de transformação modernizadora da legislação laboral» - o que quer que isso quisesse dizer. Mas, embora em sentido contrário à mudança iniciada por Durão Barroso, também o ímpeto de Sócrates esmoreceu.
Vieira da Silva agiu primeiro como bombeiro. Com a lei 9/2006 introduziu alterações de carácter urgente para impedir que à caducidade das convenções colectivas se seguisse o «vazio», respondendo à pressão dos sindicatos que se viram pela primeira vez confrontados com o risco de as convenções caducarem em situações de falta de acordo entre os parceiros (antes do Código na falta de acordo entre patrões e sindicatos as convenções antigas mantinham-se em vigor, o que significava na prática a manutenção do status quo). A lei entrou em vigor no início do ano mas nem por isso o ritmo de assinatura de novos contratos acelerou de forma significativa - até meio do ano havia menos de cem novos contratos assinados, em média com os 200 do ano anterior. Com a nota positiva de alguns bastante inovadores, como o do sector do vestuário.
Apagado o fogo das convenções, o Governo reduziu a ênfase na revisão do Código, uma postura que limita os atritos com as confederações patronais, em especial com a CIP, que logo quando o Governo tomou posse havia declarado inaceitável a revisão antecipada.
E assim a comissão do Livro Branco, que desde há meses se sabe que será presidida por António Monteiro Fernandes, continua a marcar passo, sem ser formalmente constituída. Sem dar o braço a torcer, o Governo acabou por atirar a revisão para 2007, a data prevista no próprio Código. Mas pelo caminho que as coisas estão a tomar, até pode ser depois.
Tudo depende da amplitude da revisão, que os sindicatos, em especial a CGTP, vão querer maximizar. Veremos como descalça o Governo a bota de atirar a conflitualidade entre patrões e sindicatos inerente ao processo de revisão para o segundo ciclo da legislatura. Vieira da Silva, às voltas com a reforma da Segurança Social, pode estar renitente em comprar outra guerra sobre o Código do Trabalho. Ou pode, simplesmente, ter caído na real."

quinta-feira, 24 de agosto de 2006

Dos Choques Tecnológicos

Choques, contra-choques, pára-choques, petrolíferos, de ideias, de cabeças, eléctricos, tecnológicos ... disto anda o Mundo cheio!

Gostei deste episódio aqui narrado, tirado de mais uma das cronistas do Jornal de Negócios (este jornal tem uns colaboradores nada condizentes com o significado literal do seu título ...?), e daquele ar tão naturalmente lusitano dos que se perdem na imensidão do deserto da genuína ignorância. Vale-nos o semper fidelis publicum servitorem, mesmo quando queremos, em qualquer recanto que não seja o de nossas casas, aliviar-nos das dolorosas necessidades da bexiga - apesar de nos WC da CP os utentes ainda terem de pagar 50 cêntimos para esse alívio, em pleno choque ... tecnocrático)

"O choque tecnológico no Portugal profundo

Isabel Meirelles
Não ter acesso à Internet, à nossa caixa de mail para enviar ou receber correspondência electrónica, bem como estar, ainda que temporariamente, impedido de tirar partido de todas as funcionalidades que as maravilhas tecnológicas põem hoje à nossa disposição é, para quem tem o vício e a necessidade, quase o mesmo que ser homeless. Pelo menos, é assim que me pressenti quando, estas férias, ao ter que ir ao concelho de Coimbra primeiro e ao de Mourão depois, decidi levar o meu portátil que, contudo, tinha a dificuldade de poder não ter nos locais de destino ligação à famigerada Internet a fim de poder continuar conectada com o mundo em geral e o trabalho em particular. Em suma, férias mas non tropo.
Ora, para acautelar a situação, decidi ir à loja de um operador de telecomunicações onde adquiri uma placa que, qual milagre, me dava ligação sem fios à tão almejada Internet, bastando seguir as instruções de instalação de um simples CD que vinha no pacote. Parecia simples, nem sequer muito dispendioso e, assim munida, senti-me, qual Jacinto das Cidades e das Serras, a empreender uma viagem dos Campos Elísios até Tormes, carregada de bagagem repleta de civilização.
Contudo, tal como aconteceu a Jacinto, a minha bagagem tecnológica não se perdeu, mas pode dizer-se que a situação se lhe equivaleu, porque fui absolutamente incapaz, apesar de todas as tentativas desesperantes e desesperadas, de pôr a bendita da placa de ligação à Internet a funcionar, o que me estava a impedir, com todos os prejuízos sobretudo psicológicos daí decorrentes de, designadamente, enviar os textos destas crónicas.

Instalada a incapacidade e o pânico, decidi tomar outras medidas drásticas e procurar, no caso vertente em Miranda do Corvo, um pólo cibernauta, um qualquer ciber café que, para espanto meu existia, mas que em Agosto se encontrava fechado para férias! Afinal até o plano tecnológico tem direito a época estival. Já no limite do meu tempo, e quase à beira de um ataque de nervos, munida de pen e de disquete, e de tudo aquilo que fosse compatível com o mais jurássico dos equipamentos, dirigi-me à Câmara Municipal onde não só havia Internet como o atendimento foi surpreendentemente profissional, tendo-me sido indicada a biblioteca municipal onde o serviço disponibilizado, para além de gratuito, foi digno de um qualquer organismo de paradigma finlandês.

Uma semana mais tarde voltou-me a acontecer algo semelhante em Mourão, onde a cena se repetiu. Munida da experiência adquirida dirigi-me ao Cibercafé que, desta feita, estava com os servidores em baixo. De novo foram os computadores da Câmara a salvar a situação, igualmente com enorme mérito do funcionário respectivo que, com uma eficiência, gentileza e profissionalismo impares, provia às necessidades informáticas do burgo.

Chegada à capital em terreno informático firme, precipitei-me com curiosidade ávida na pesquisa do Plano Tecnológico em cujo website se pode ler que o Plano Nacional de Acção para o Crescimento e o Emprego 2005-2008 é a resposta portuguesa aos desafios propostos pela Estratégia de Lisboa relançada, com destaque para os objectivos de aposta na sociedade do conhecimento, o aumento dos níveis de competência, o desenvolvimento científico e tecnológico e um processo de aprendizagem ao longo da vida.

É sem dúvida um plano estratégico, e talvez a espinha dorsal do nosso desenvolvimento, que conta com um montante global de fundos comunitários de 22,5 mil milhões de euros, dos quais cerca de 75% se destinam à modernização do tecido económico e empresarial, bem como da qualificação e da reconversão profissional.

Contudo, como parece que já está a acontecer, e falo desta experiência marcante, o exemplo tem que vir do próprio Estado, seja ele Administração Central ou local, até para que os Jacintos doutras paragens se sintam tão confortavelmente como em Tormes, numa simplicidade bucólica, mas com o essencial das comodidades actuais que passam pelas indispensáveis tecnologias de informação e que são parte integrante da sociedade do conhecimento que se almeja mesmo para os sítios mais recônditos deste nosso Portugal."

sexta-feira, 18 de agosto de 2006

"Bancos de Agosto"

"Até um dia destes, se Deus quiser"! Assim me despedi dos que há anos não via, nos corredores da minha Escola que é o ISCSP.

Já a meio deste mês que nos destinam para descanso, tenho que começar a tratar dos assuntos que é necessário resolver para mais um ano de trabalho (s), ou para o tornar o menos pesado possível, entre tempestades e cabalas (?)! E porque venho agora com esta? Pois, após ter tido uma conversa, tão instrutiva como amiga, com o meu antigo Professor de "Métodos" Fausto Amaro, vejo outro dos meus docentes de então ao fundo, no meio da luz ao fundo do "corredor", mas com o mesmo aspecto de sempre, como se os anos lhe não tivessem passado por cima. sempre agarrado aos livros, que consigo transporta! E que, agora, mais do que há já muito tempo não é, anda com um ritmo de leitura impressionante! Depois da Mega cabala que, entre outras das vicissitudes dos meandros político-universitários, o obrtigou a uma "protecção" cardíaca! Falo do mui controverso Professor José Júlio Gonçalves, que na Sociologia me ensinou a ter sempre muita atenção ao "cheiro", uma variável de análise sociológica impressionante, a seu ver merecedora de uma especialçização sociológica ... não me esquecerei tão facilmente!
E assim me apetece rever estas conjecturas ao espelhá-las neste artigo de verão do já mui referenciado autor desta rúbrica que é o Sérgio Figueiredo, e nele compreenderão a razão de ser deste paralelismo de conteúdos. Como me dizia hoje de manhã o Prof. JJ, há por aí muitos desses "novos cães de guarda"!
"Bancos de Agosto

Sérgio Figueiredo
sf@mediafin.pt



Esta coluna não deverá ser hoje lida pela metade do país que descansa em férias. E mesmo a outra metade, aquela que aproveita o lento ritmo de Agosto para trabalhar sem grandes sobressaltos, merece um prévio pedido de desculpas.
Porque é terrivelmente aborrecido ter de reflectir sobre os impostos e sobre lucros. Sobre as poupanças que faltam e os juros que sobem. Sobre quem paga e quem não paga. Sobre justiças e outras coisas mal justificadas.
O Jornal de Negócios adapta-se ao Verão. Porque procura estar sempre adaptado aos hábitos dos seus leitores. E quer ver uma coisa curiosa? O Ministério das Finanças concorda. Senão leia na página 22, precisamente no caderno «Verão», o levantamento exaustivo que o «staff» de Teixeira dos Santos realiza às notícias económicas publicadas em todos os jornais nacionais.
Adivinhou: nestes meses caem a pique. É, portanto, um instinto de sobrevivência, os jornais especializados ajustarem a oferta de conteúdos à época. Programam-se trabalhos diferentes, publicam-se entrevistas diferentes, sem contudo abdicar dos cromossomas que nos distinguem dos outros.
E, com este tal instinto de mercado, as duas jornalistas que assinam dois dos melhores trabalhos da nossa edição de hoje deram-me a mesma resposta, quando lhes disse que o editorial do jornal era sobre o seu assunto. A mesma resposta, em duas conversas separadas: tentaram demover-me.
Não o conseguiram. E cá estão eles, os juros (página 26) e os impostos (páginas 14 e 15) a servir de mote. Com dois denominadores comuns: um é que, em ambos os casos, não queremos que eles subam; o outro é a banca. O sistema financeiro está presente pelos impostos que pagam e pelos juros que cobram.
Pouco no primeiro caso. Muito no segundo. Por isso são tão impopulares. Tão imprescindíveis quanto impopulares. Também por isso, por serem um «bem comum», por Portugal ter uma das populações mais bancarizadas da Europa, são frequentemente discutidos com muita demagogia e pouca informação.
Os lucros exorbitantes, a tributação insuficiente, a relação assimétrica que mantêm com o cliente: quando os juros directores sobem, o custo do crédito cresce e o rendimento do depósito... esquece.
Pois bem, há uma boa notícia de Verão neste assunto árido: os bancos voltaram a andar atrás do seu dinheiro. Pela primeira vez em muitos anos, praticamente desde que o país iniciou a rota de aproximação ao euro, estamos a assistir a uma guerra pela poupança.
É verdade! Todo o sistema financeiro esteve concentrado nos últimos anos a promover o principal negócio: o crédito deles, que é o nosso endividamento. Não há memória de uma grande campanha sobre um produto de poupança, uma conta especial.
Os juros pagos, na grande maioria dos casos, inferiores à inflação. É normal que a banca não faça grandes ondas, do género «deposite no nosso banco e perca menos que nos outros». O cliente, logo, a conta, estava ganho pelo contrato da casa. E do carro. E da viagem de sonho.
Quando o Banco Central Europeu aperta a política monetária e os juros directores sobem isso não é mau para a banca. Pelo contrário, as margens aumentam, mas, ainda assim, dá e sobra para remunerar melhor a poupança. A economia agradece.
E os impostos? Pois é. Há razões para a taxa efectiva de IRC da banca ser a que é. E há razões para os lucros apresentados crescerem como crescem. Mas o facto é que a taxa efectiva de imposto sobre os lucros da banca cai para 18%. E os lucros continuam a crescer.
Se há explicação para isto, temos outra situação inédita: são os banqueiros que estão em dívida para com a sociedade. Devem, no mínimo, a pedagogia da explicação. É que, quanto mais se olha para aquele IRC de 18%, mas vem à memória o número que, em letras garrafais, vinha estampado na primeira página de ontem: 1.350. Milhões. De euros. De lucros. De cinco bancos. Num simples semestre."

terça-feira, 15 de agosto de 2006

"Harakiri global"

E por que é que a Economia Política, que não trata necessariamente, apenas, de questões de política económica, é uma ciência por muitos amaldiçoada!

Ainda em férias, à espera de lhes apanhar o gosto, revejo as minhas notas do "Prelo", e 'desenterrei' mais este artigo de opinião, deste rapaz que, um dia, ainda se vê agregado nas adjuntices hipócritas, se não conseguir manter-se leal às suas próprias e muito convenients críticas sociais, muito para além do seu peso especificamente economista.
Lembro-me de que nem tudo o que releva nas Economias tem de circunscrever-se às contabilidades ou disciplinas de cálculo económico e/ou financeiro, tal como as domestic politics não se determinam exclusivamente pelos parâmetros das respectivas Contabilidades Públicas. Se não, vejamos esta pequena 'lição' que o autor nos transmite relativamente ao evoluir da economia mundial, na actualidade. Sem ironias. Mas reportando-se a n hipocrisias!
"Harakiri global
Sérgio Figueiredo
sf@mediafin.pt

Estavamos entretidos com as crises caseiras, a política e a económica, que nem demos por isso: mas a economia do mundo vive há quatro anos de ventos favoráveis.
Tão favoráveis que é preciso recuar ao início da década de 70 para encontrar outro período igual. Em crescimento económico. Em crescimento do comércio (preços e volumes). E também em liquidez disponível.
Nestes quatro anos domina ainda a reflexão sobre causas e motivos que levaram Portugal, ao contrário de outros países, a desperdiçar um contexto internacional tão impressionante. Não é o que se propõe hoje.
Em tempo de férias não é tempo de insistir nas conhecidas vulnerabilidades. Nem para perturbar o sossego de quem está ou se prepara para o merecido descanso. A ideia é, portanto, ignorar as desgraças nacionais. Falemos das alheias.
Para tentar perceber como é que o mundo, os líderes deste mundo que avança em grande velocidade, puxado por novas e impensáveis locomotivas, decidem saltar dos carris e comprometer uma das origens deste sucesso global recente.

Não bastava o petróleo a caminho dos 100 dólares? A consequente pressão sobre os preços? E o necessário aperto da política monetária, desencadeado pelos principais bancos centrais? Como é possível desfazer anos e anos de negociações e, num ápice, implodir o sistema de comércio internacional mais livre?
O comércio livre é uma base sólida da globalização. A globalização transformou-se no grande palco das ideologias do século XXI. Até das mais idiotas, que são, simultaneamente à esquerda e à direita, as dominantes. Ideologia com idiotice gera hipocrisia.
Seria idiota pensar que foi a ideologia que tornou os Estados Unidos incapazes de cortar os subsídios públicos aos agricultores. E não são idiotas os outros cinco protagonistas da Organização Mundial do Comércio (União Europeia, Japão, Austrália, Brasil e Índia), que iniciaram uma maratona de 14 horas, até à madrugada de ontem, para se autodeclararem um fracasso.
Hipocrisia global. Num triunfo de burocratas. É esta a causa e a conclusão do fim de Doha. Assim decretado pelo britânico Peter Mandelson: «Perdemos a última saída da estrada.» Onde entraram há cinco anos.
Cálculos do Banco Mundial apontam um «custo» para o insucesso de Doha: 227 mil milhões de euros. Era a impressionante soma de ganhos com o aprofundamento da liberalização da agricultura, da indústria e dos serviços. São cenários, valem o que valem.
Embora não restem dúvidas quanto ao impacto extraordinário que foi produzido pelo dinamismo comercial em grandes economias (e não é só a China...). E de outros países que antes, em contextos de maior proteccionismo, revelavam uma fraca capacidade de reter os benefícios gerados em fases de prosperidade.
A abertura favorece os sectores exportadores e respectivos empresários e trabalhadores. E o obsoleto método negocial da OMC só está concentrado nos «custos» que a abertura de fronteiras traz, evidentemente, aos sectores importadores. Agricultura e têxtil celebram o fim de Doha. Aqui, no resto da Europa, nos EUA. São eles os vencedores de um mundo fechado ao comércio livre.
É o mundo em que perdem os exportadores, ou seja, os mais dinâmicos, aqueles que puxam pela produtividade, pelos salários e pelo crescimento da economia. O mesmo mundo que penaliza os consumidores, impedidos de aceder a bens importados e mais baratos – a maioria dos «ganhos» de 227 mil milhões foi calculada pela queda de preços de bens agrícolas e de vestuário.
O brasileiro Celso Amorim é menos fleumático e pouco exagerado. Saiu da reunião recusando-se a classificar o momento de desastroso: «Mas esta situação é a mais próxima que podemos ter do desastre.» Problema deles?..."

sábado, 12 de agosto de 2006

"Democracia com sexo"

Ésta é das boas, que não estando frescas nos fazem constantemente refrescar a memória do que, realmente, somos ... hojem mais do que nunca, por decreto!
O caso faz-me lembrar a crescente possibilidade biológica de manipulação genética, também aplicável na reprodução humana, e como no futuro, neste sentido logicamente sem lógica, se decretará uma quota de reprodução para os géneros humanos (a saber, mais que os naturais dois, masculino e feminino), consoante as exigências sócio-políticas então vigentes. Nessa altura, talvez o "eixo do mal" já tenha sido aniquilado, os "terroristas" sejam figuras fósseis em albuns ou museus, os homens e mulheres sejam espécie em extinção!
É que eu já li, há uns bons 20 anos, um livrinho que, de autoria da boa linha teórico-política americana, versava sobre as relações da biologia e da política! ... O que pode ser perigoso! Mesmo muito perigoso! Como nos chama a atenção o autor de mais este artigo do Jornal de Negócios, integrando-se a variável sexo nas outras determinantes sociológicas pertinentes, resta-nos, para o futuro das nossas consciências sociais e das dos nossos governantes que assinaram esta Lei, a questão de se saber quantas mulheres pobres deverão fazer parte das listas partidárias nos actos electivos! Ou, noutra esfera da vida social, que percentagem de homens deverá fazer a lida da casa, enquanto a mulher se candidata a ser presidente de alguma coisa!Ou vice-versa!

Democracia com sexo
Sérgio Figueiredo
sf@mediafin.pt
"Este é um daqueles textos que pode não resistir aos factos da História. E tomara que seja! Oxalá os resultados surjam, a diligência redunde num tremendo sucesso e a classe política se torne mais feminina – logo, mais competente.
Queremos que tudo isto aconteça, sobretudo porque o país precisa. Mas, além disso, porque seria surpreendente.
Falamos da Lei da Paridade, uma iniciativa do partido da rosa (que outro poderia ser!..), que impõe a inclusão de um terço de mulheres nas listas às eleições e ontem foi finalmente promulgada pelo Presidente da República.
O PS reagiu: na reforma do sistema político, será esta a medida mais emblemática da legislatura. Todos os outros, à excepção do BE, são contra, com argumentos do género «não respeita a liberdade de funcionamento dos partidos» e uma série de tretas que, como outras, explicam porque os partidos têm, de facto, cada vez menos mulheres na militância. Mulheres e homens.
Ou seja, em traços muito gerais e a partir de agora, para um partido político concorrer a eleições autárquicas, legislativas e europeias, tem de assegurar que, entre cada três candidatos eleitos, um será obrigatoriamente mulher. Caso contrário, sofre um corte nas subvenções do Estado.
É fácil atacar esta Lei pela razão mais óbvia: a discriminação. Mas é realmente o maior vício deste raciocínio, o pecado original desta iniciativa do PS, que é partir do princípio que a discriminação existe.
O raciocínio está viciado porque está por provar que os partidos excluem deliberadamente as mulheres quando formam listas eleitorais. É inegável que o nosso Parlamento tem poucas deputadas. E, também, que os partidos têm poucas mulheres nas suas fileiras.
Até seria admissível, porque mais coerente, que a legislação fixasse uma quota de mulheres eleitas em função da representatividade das mulheres dentro de cada força partidária. Coerente, mas pouco exequível. Assim fica artificial.
Artificial porque o que a Lei da Paridade faz, com o alto patrocínio do Presidente, é ignorar que a Assembleia da República reflecte a vida dos partidos e que estes reflectem a realidade do país.
Partir do princípio que a discriminação nas listas existe é o pior dos vícios do raciocínio que levou a Assembleia da República a aprovar esta Lei, mas não é o único. O segundo é pensar que se resolve uma discriminação por decreto. O terceiro, mais paradoxal, é estar a criar uma Lei que é, ela própria, discriminatória.
Se existe uma exclusão objectiva das mulheres da vida política activa é porque existem fortes razões económicas, culturais e sociológicas para tal acontecer. A Lei do PS não é uma medida oca-sional, é aliás reincidente, porque a maioria parlamentar, então adversa, lhe chumbou iniciativa idêntica há praticamente seis anos. É, assim, uma convicção socialista: identificar o problema, manter as causas, atacar as consequências.
É o paradoxo que tem sido mais debatido: criar quotas por sexos no Parlamento discrimina as mulheres e também os homens. Consagra, na lei, a ideia perversa do «sexo oposto». E abre precedentes. E as minorias étnicas? E os deficientes? E quem representa os pobres? E os desempregados? Enfim...
E por que desejamos que a História se encarregue de provar que o equívoco, afinal, está neste texto? Porque a «ditadura masculina» na política já foi derrubada noutros países por imposição legal. Nos países nórdicos, lembram os apologistas. Nos países ex-comunistas de Leste, devemos também recordar. Para distinguir entre aqueles que valorizam a mulher na sociedade e os outros que a promoviam artificialmente a cargos políticos. E nós, infelizmente, não somos suecos."

quarta-feira, 9 de agosto de 2006

My God ... Que Férias?

Reaparecendo ... na quase pseudo terapêutica das férias que se imaginam ... quanta "postagem" não aconteceu?
Pois é! Nestas pretensas férias que se vão concretizando, à medida que o corpo em comunhão com o espírito disso se vão convencendo, lembro-me que comecei a ler "Uma Dívida Moral"! Tema interessante para quem, nestas pretensas vaganças, está a construir o esboço inicial da disciplina de Ciência Política para alunos do Ensino Secundário (se, entretanto, os donos do salamaleque do costume não se apropriarem de competências alheias, que é o mesmo que dizer se os donos da hierarquia antipedagógica da 'idade é um posto' não convencerem os senhores das escolas de que as disponibilidades disciplinares das ditas assim devem ser preenchidas ...). Obra que trata das relações entre a Igreja Católica e as perseguições ao povo judeu, contribuindo para o actual debate desta contabilidade politológica!
Assim me vem à ideia, também, o tema do velhinho Jethro Tull (Aqualung), My God, nessa mística que é essa social teocrítica anticatólica, numa noite de lua cheia de Agosto! Nada mais a gosto de um contra-gosto!

My God

People what have you done
locked him in his golden cage.
Made him bend to your religion
Him resurrected from the grave.
He is the God of nothing
if that's all that you can see.
You are the God of everything
He's a part of you and me.
So lean upon him gently
and don't call on Him to save you
from your social graces
and the sins you wash to waive.
The bloody Church of England
in chains of history
requests' your earthly presence at
the vicarage for tea.
And the graven image you-know-who
he's got him fixed
with his plastic crucifix
confuses me as in who and where and why
as to how he gets his kicks.
Confessing to endless sin
the endless whining sounds.
You'll be praying till next Thursday to
all the God that you can count.

Jethro Tull - My God (Aqualung)