Dos Choques Tecnológicos
Choques, contra-choques, pára-choques, petrolíferos, de ideias, de cabeças, eléctricos, tecnológicos ... disto anda o Mundo cheio!
Gostei deste episódio aqui narrado, tirado de mais uma das cronistas do Jornal de Negócios (este jornal tem uns colaboradores nada condizentes com o significado literal do seu título ...?), e daquele ar tão naturalmente lusitano dos que se perdem na imensidão do deserto da genuína ignorância. Vale-nos o semper fidelis publicum servitorem, mesmo quando queremos, em qualquer recanto que não seja o de nossas casas, aliviar-nos das dolorosas necessidades da bexiga - apesar de nos WC da CP os utentes ainda terem de pagar 50 cêntimos para esse alívio, em pleno choque ... tecnocrático)
"O choque tecnológico no Portugal profundo
"O choque tecnológico no Portugal profundo
Não ter acesso à Internet, à nossa caixa de mail para enviar ou receber correspondência electrónica, bem como estar, ainda que temporariamente, impedido de tirar partido de todas as funcionalidades que as maravilhas tecnológicas põem hoje à nossa disposição é, para quem tem o vício e a necessidade, quase o mesmo que ser homeless. Pelo menos, é assim que me pressenti quando, estas férias, ao ter que ir ao concelho de Coimbra primeiro e ao de Mourão depois, decidi levar o meu portátil que, contudo, tinha a dificuldade de poder não ter nos locais de destino ligação à famigerada Internet a fim de poder continuar conectada com o mundo em geral e o trabalho em particular. Em suma, férias mas non tropo.
Ora, para acautelar a situação, decidi ir à loja de um operador de telecomunicações onde adquiri uma placa que, qual milagre, me dava ligação sem fios à tão almejada Internet, bastando seguir as instruções de instalação de um simples CD que vinha no pacote. Parecia simples, nem sequer muito dispendioso e, assim munida, senti-me, qual Jacinto das Cidades e das Serras, a empreender uma viagem dos Campos Elísios até Tormes, carregada de bagagem repleta de civilização.
Contudo, tal como aconteceu a Jacinto, a minha bagagem tecnológica não se perdeu, mas pode dizer-se que a situação se lhe equivaleu, porque fui absolutamente incapaz, apesar de todas as tentativas desesperantes e desesperadas, de pôr a bendita da placa de ligação à Internet a funcionar, o que me estava a impedir, com todos os prejuízos sobretudo psicológicos daí decorrentes de, designadamente, enviar os textos destas crónicas.
Instalada a incapacidade e o pânico, decidi tomar outras medidas drásticas e procurar, no caso vertente em Miranda do Corvo, um pólo cibernauta, um qualquer ciber café que, para espanto meu existia, mas que em Agosto se encontrava fechado para férias! Afinal até o plano tecnológico tem direito a época estival. Já no limite do meu tempo, e quase à beira de um ataque de nervos, munida de pen e de disquete, e de tudo aquilo que fosse compatível com o mais jurássico dos equipamentos, dirigi-me à Câmara Municipal onde não só havia Internet como o atendimento foi surpreendentemente profissional, tendo-me sido indicada a biblioteca municipal onde o serviço disponibilizado, para além de gratuito, foi digno de um qualquer organismo de paradigma finlandês.
Uma semana mais tarde voltou-me a acontecer algo semelhante em Mourão, onde a cena se repetiu. Munida da experiência adquirida dirigi-me ao Cibercafé que, desta feita, estava com os servidores em baixo. De novo foram os computadores da Câmara a salvar a situação, igualmente com enorme mérito do funcionário respectivo que, com uma eficiência, gentileza e profissionalismo impares, provia às necessidades informáticas do burgo.
Chegada à capital em terreno informático firme, precipitei-me com curiosidade ávida na pesquisa do Plano Tecnológico em cujo website se pode ler que o Plano Nacional de Acção para o Crescimento e o Emprego 2005-2008 é a resposta portuguesa aos desafios propostos pela Estratégia de Lisboa relançada, com destaque para os objectivos de aposta na sociedade do conhecimento, o aumento dos níveis de competência, o desenvolvimento científico e tecnológico e um processo de aprendizagem ao longo da vida.
É sem dúvida um plano estratégico, e talvez a espinha dorsal do nosso desenvolvimento, que conta com um montante global de fundos comunitários de 22,5 mil milhões de euros, dos quais cerca de 75% se destinam à modernização do tecido económico e empresarial, bem como da qualificação e da reconversão profissional.
Contudo, como parece que já está a acontecer, e falo desta experiência marcante, o exemplo tem que vir do próprio Estado, seja ele Administração Central ou local, até para que os Jacintos doutras paragens se sintam tão confortavelmente como em Tormes, numa simplicidade bucólica, mas com o essencial das comodidades actuais que passam pelas indispensáveis tecnologias de informação e que são parte integrante da sociedade do conhecimento que se almeja mesmo para os sítios mais recônditos deste nosso Portugal."
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