"Bancos de Agosto"
"Até um dia destes, se Deus quiser"! Assim me despedi dos que há anos não via, nos corredores da minha Escola que é o ISCSP.
Já a meio deste mês que nos destinam para descanso, tenho que começar a tratar dos assuntos que é necessário resolver para mais um ano de trabalho (s), ou para o tornar o menos pesado possível, entre tempestades e cabalas (?)! E porque venho agora com esta? Pois, após ter tido uma conversa, tão instrutiva como amiga, com o meu antigo Professor de "Métodos" Fausto Amaro, vejo outro dos meus docentes de então ao fundo, no meio da luz ao fundo do "corredor", mas com o mesmo aspecto de sempre, como se os anos lhe não tivessem passado por cima. sempre agarrado aos livros, que consigo transporta! E que, agora, mais do que há já muito tempo não é, anda com um ritmo de leitura impressionante! Depois da Mega cabala que, entre outras das vicissitudes dos meandros político-universitários, o obrtigou a uma "protecção" cardíaca! Falo do mui controverso Professor José Júlio Gonçalves, que na Sociologia me ensinou a ter sempre muita atenção ao "cheiro", uma variável de análise sociológica impressionante, a seu ver merecedora de uma especialçização sociológica ... não me esquecerei tão facilmente!
E assim me apetece rever estas conjecturas ao espelhá-las neste artigo de verão do já mui referenciado autor desta rúbrica que é o Sérgio Figueiredo, e nele compreenderão a razão de ser deste paralelismo de conteúdos. Como me dizia hoje de manhã o Prof. JJ, há por aí muitos desses "novos cães de guarda"!
Sérgio Figueiredo
sf@mediafin.pt
Esta coluna não deverá ser hoje lida pela metade do país que descansa em férias. E mesmo a outra metade, aquela que aproveita o lento ritmo de Agosto para trabalhar sem grandes sobressaltos, merece um prévio pedido de desculpas.
Porque é terrivelmente aborrecido ter de reflectir sobre os impostos e sobre lucros. Sobre as poupanças que faltam e os juros que sobem. Sobre quem paga e quem não paga. Sobre justiças e outras coisas mal justificadas.
O Jornal de Negócios adapta-se ao Verão. Porque procura estar sempre adaptado aos hábitos dos seus leitores. E quer ver uma coisa curiosa? O Ministério das Finanças concorda. Senão leia na página 22, precisamente no caderno «Verão», o levantamento exaustivo que o «staff» de Teixeira dos Santos realiza às notícias económicas publicadas em todos os jornais nacionais.
Adivinhou: nestes meses caem a pique. É, portanto, um instinto de sobrevivência, os jornais especializados ajustarem a oferta de conteúdos à época. Programam-se trabalhos diferentes, publicam-se entrevistas diferentes, sem contudo abdicar dos cromossomas que nos distinguem dos outros.
E, com este tal instinto de mercado, as duas jornalistas que assinam dois dos melhores trabalhos da nossa edição de hoje deram-me a mesma resposta, quando lhes disse que o editorial do jornal era sobre o seu assunto. A mesma resposta, em duas conversas separadas: tentaram demover-me.
Não o conseguiram. E cá estão eles, os juros (página 26) e os impostos (páginas 14 e 15) a servir de mote. Com dois denominadores comuns: um é que, em ambos os casos, não queremos que eles subam; o outro é a banca. O sistema financeiro está presente pelos impostos que pagam e pelos juros que cobram.
Pouco no primeiro caso. Muito no segundo. Por isso são tão impopulares. Tão imprescindíveis quanto impopulares. Também por isso, por serem um «bem comum», por Portugal ter uma das populações mais bancarizadas da Europa, são frequentemente discutidos com muita demagogia e pouca informação.
Os lucros exorbitantes, a tributação insuficiente, a relação assimétrica que mantêm com o cliente: quando os juros directores sobem, o custo do crédito cresce e o rendimento do depósito... esquece.
Pois bem, há uma boa notícia de Verão neste assunto árido: os bancos voltaram a andar atrás do seu dinheiro. Pela primeira vez em muitos anos, praticamente desde que o país iniciou a rota de aproximação ao euro, estamos a assistir a uma guerra pela poupança.
É verdade! Todo o sistema financeiro esteve concentrado nos últimos anos a promover o principal negócio: o crédito deles, que é o nosso endividamento. Não há memória de uma grande campanha sobre um produto de poupança, uma conta especial.
Os juros pagos, na grande maioria dos casos, inferiores à inflação. É normal que a banca não faça grandes ondas, do género «deposite no nosso banco e perca menos que nos outros». O cliente, logo, a conta, estava ganho pelo contrato da casa. E do carro. E da viagem de sonho.
Quando o Banco Central Europeu aperta a política monetária e os juros directores sobem isso não é mau para a banca. Pelo contrário, as margens aumentam, mas, ainda assim, dá e sobra para remunerar melhor a poupança. A economia agradece.
E os impostos? Pois é. Há razões para a taxa efectiva de IRC da banca ser a que é. E há razões para os lucros apresentados crescerem como crescem. Mas o facto é que a taxa efectiva de imposto sobre os lucros da banca cai para 18%. E os lucros continuam a crescer.
Se há explicação para isto, temos outra situação inédita: são os banqueiros que estão em dívida para com a sociedade. Devem, no mínimo, a pedagogia da explicação. É que, quanto mais se olha para aquele IRC de 18%, mas vem à memória o número que, em letras garrafais, vinha estampado na primeira página de ontem: 1.350. Milhões. De euros. De lucros. De cinco bancos. Num simples semestre."
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