quarta-feira, 13 de setembro de 2006

O Céu é uma República Universal

As desilusões dos naturofilistas!

Resolvi dedicar este artigo da minha musicologia à cantora tibetana Yungchen Lhamo, nesta sua interpretação evocativa da necessidade do espaço de sentimento de liberdade que pode ser o céu ("Sky"), porque sou testemunha, também pelo que observei passar-se em Cabanas de Tavira (era o meu paraíso em 1973/74), das razões que levaram este leitor do JN a queixar-se do que consigo se passou na Zambujeira do Mar, que eu também conheci há 16 anos! ... E não vejo, nos sítios do Google sobre esta localidade, foto alguma do Bar da Praia! Razões de qualquer um dos que ame a natureza e sinta que manifestá-las não seja apenas um lamento, mas um grito de sinal! De que, ainda, podermos resistir!

"Zambujeira na hora da despedida
Frequentei o Algarve, Tomatoes´Beach, no final dos anos oitenta. O areal, forrado a toalhas Moschino, made in Alcochete, acolhia todo o tipo de fauna ministros sem pasta, mestres-de-obras com pasta, massagistas-leninistas, alguns esfregões de ideias, tias sortidas para todas as bolsas, artistas de plástico, um ou dois cirurgiões plásticos: - Ó Diogo, está a ver aquelas mamas rosa-choque?!, são minhas.Entre dois mergulhos e uma bisnagadela factor 92, não fosse o sol deprimir, discutiam-se, então, os sucessos da Pátria faltavam 600 metros para concluir a via rápida Quinta da Marina-Marraquexe, sem passagem pela Mealhada. O nosso PIB tinha já ultrapassado o do Gana e, pasme-se, preparava-se para superar o do Estrela da Amadora. Que mil Cavacos floresçam entre nós!, pedia-se.Desisti do Algarve quando, certo Verão, concluí que para comer dois rissóis e beber um sumo quase natural, teria, ao fim de doze rissóis, de vender o Clio-quase-pago e deixar a namorada como garantia.Subi, então, para a Zambujeira, que me acolheu na última década e meia. Recordo, com emoção, as noites quentes do Sudoeste - o pó, o cheiro a liberdade e a magia dos sons, misturando-se no ar como se fosse Sábado.Na Zambujeira do Mar tudo era diferente os peixes-aranha mais másculos, os charros mais ardentes, os cães tinham pulgas a sério, as donas dos cães não faziam brushing, os agentes da GNR, dois ao todo, multavam e reprimiam como gente grande. A nadadora-salvadora sabia a mar. "Espera-me entrando".Tudo corria bem até ontem. Ao tentar alugar a casa do costume, a senhora informou-me que todo o quarteirão virara condomínio fechado, com suites voltadas para o Rato e casas de banho com banda larga. O quiosque onde habitualmente comprava mortalhas era, agora, um posto avançado do SIS. Um néon, impante, anunciava "escutas sempre frescas". A tasca do Zé transformou-se num restaurante japonês com um nome quase pornográfico. O besugo deu em sashimi. Por fim, a praia dos nudistas, converteu-se num aquaparque com ministros amestrados e comentadores que vêm comer à mão.Fugi, espavorido, para o Porto. Nada mais simplex este ano acampo na Avenida dos Aliados, junto à piscina do Siza. Como não há relva, levo uma esteira de casa. Made in Zambujeira, está claro.


Yungchen Lhamo - Sky - (Coming Home)

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