segunda-feira, 2 de julho de 2007

Eu bem digo que este Jornal é uma grande Escola

Ter "bolinhas pretas" já foi sinónimo de prestígio! ... (?)
Bem me pareceu ter ouvido um sinal de estrondo quando, um dia destes, esperando por um Professor nos corredores de uma instituição de ensino superior, onde decorria uma reunião do Conselho Científico em que ele participava, alguém disse NÃO! E toda a Instituição ouviu aquele esfarrapar de porta! A quê? Porquê? Parece que agora, publicamente, alguém veio dizer algo sobre o assunto (a não ser os posts algo inconvenientes de meu mui citado mestre JAM).
Trata-se, então, de mais esta 'bicada' do Jornal de Negócios, pela pena dessa sua autora que é a Luisa Bessa:
"Bolas pretas nas universidades
Não é só a bolsa que está ao rubro. O ambiente também está quente nas universidades. Só não há grandes manifestações de rua porque os estudantes estão sem aulas e a braços com exames. O debate que está em curso sobre o Regime Jurídico para as Instituições do Ensino Superior, que ontem foi discutido na Assembleia da República, é do maior interesse para o País, pois está em questão o modelo de governo das instituições do ensino superior.

É o princípio do fim da Lei da Autonomia, que rege as universidades há quase 20 anos, e que se foi responsável pelo desenvolvimento do ensino superior em Portugal (basta ver que em 2005 se formaram 1.177 doutorados, mais do que os 770 de toda a década de 70 e mais de metade dos que saíram nos 80) também se transformou, nos últimos anos, em parte do problema.

Os estudantes criticam a proposta do Governo porque vão perder peso nos órgãos de gestão, assim como o corpo de funcionários. Mas a grande contestação vem mesmo dos reitores.

O que quer Mariano Gago que desagrada tanto a quem dirige as universidades? Há vários aspectos, como a mudança do processo de eleição do reitor, que passa a poder ser recrutado fora da universidade, mas o que tem originado a maior oposição é a possibilidade de algumas faculdades ou centros de investigação se transformarem em fundações de direito privado, autonomizando-se das universidades a que pertencem.

Os reitores temem o desmembramento das suas universidades, que podem ficar esvaziadas das unidades mais dinâmicas, com melhor qualidade científica e maior nível de receitas próprias, que são precisamente as que podem cumprir os requisitos exigidos pelo modelo fundacional. Mas o único argumento que parece razoável na sua argumentação é o risco de se criarem instituições sem massa crítica, num momento em que a tendência vai precisamente no sentido inverso.

Na essência, a proposta aponta no sentido certo: distinguir quem é diferente e estabelecer uma cultura de mérito que tanto falta no ensino português, como aponta o economista Luís Cabral, na entrevista que pode ler nesta edição do Jornal de Negócios.

Os reitores até podem ter razão na crítica à pressa de Mariano Gago em forçar a aprovação da lei e à sua falta de disponibilidade para envolver todos os agentes num modelo que nunca poderá ser completamente consensual, sob pena de não mudar nada. Mas toda a sua argumentação fica fragilizada perante um caso como o chumbo de Saldanha Sanches nas provas de agregação para professor Catedrático na Faculdade de Direito de Lisboa.

Se Saldanha Sanches tivesse sido chumbado, assumindo os membros do júri o seu sentido de voto, nada haveria a dizer. Divergências de opinião entre académicos fazem parte da vida e não pode haver progressão académica sem avaliação. O mesmo não se aplica ao recurso ao método cobarde das bolas pretas.

Esta pequena história é a demonstração de que a universidade precisa de mudar. A instituição que é o berço do conhecimento não pode ficar refém dos piores vícios da sociedade portuguesa e ser um obstáculo à inovação, como tem acontecido. Tudo o resto acaba por ser acessório.
Retirado do J. de Negócios

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