quarta-feira, 28 de fevereiro de 2007

Depois do Inconformismo

Nem todos os que pensam e se dizem de esquerda têm, forçosamente, de o ser. E isso não tem de ser anormal, em si mesmo. Anormal é quando, não o pensando, diz-se sê-lo, fazendo parecer aquilo que não se é. Isso é logro! Isso é socialmente indecente!
É assim que eu vivi a semana que passou, de recordação de José Afonso (o tal 'Zeca' que, para muitos que só passaram a ouvir a Grândola Vila Morena depois de 26 de Novembro de 1975, parece ser propriedade dessa tal esqueda ciumenteira), sem deixar de evocar outras músicas que pertencem, certamente, ao mesmo repertório de queixas, quais lamentações evocadoras do sagrado direito de qualquer povo, sentindo a "essência da existência", exaltar 'a sabedoria e a humildade'.
"Polenta
Allusion aux chants sacrés où le spiritual est emprent de sagesse populaire et d’humilité. À l’image de ce plat du pauvre qu’est la ‘qalantiqa', sorte de flan oranais (que l’on connaît également à Alger sous le nom de “carentita”) à base de poudre de pois-chiche et d’oeufs. Musicalement, on retrouve le mode chaâbi (populaire de la casbah), un clin d’oeil à l’Orient à travers le qanûn-cithare et un final sous forme de “daqqa marrakchia” (batements frénétiques dês mains)."

domingo, 11 de fevereiro de 2007

Razões que só o coração conhece!

Porque gosto de pensar que outros muitos como eu, certamente também por razões diversas das minhas, com ou sem a mesma consciência que eu tenho a respeito de muitas das questões em que, certamente, esses outros também pensam;
Porque já tenho ouvido dizer que o cidadão está para a polis assim como esta deve estar para o Homem, numa evocação pessoana que contribui para ilustrar bem da nossa pernonalidade básica, num Mundo cada vez mais distante do terreno da realidade em que diz viver, tal é o grau de estupefacção a que este estado chegou;
Porque me lembro de que, na polis, o primeiro elemento é o do sentimento de pertença e não a razão que o compreenda, para antes do dever haver o ser, para antes do saber haver o ter;
SINTO-ME a "navegar" nessa portugalidade imensa através das batidas das cordas do piano, como que me soprando em segredo que hoje já não haverá mais motivo para carpir a humilhação, tal tem sido a manifestação de interesses, vontades, opiniões a arrastar a indignação, por muitos anos esquecida, do flagelo em que muitas mulheres (por vezes já mães) se encontram.
Por isso, mesmo antes de saber o que destas manifestações de participação resulta, interessa-me perceber que é o meu povo que fala, por mais manipulado e constantemente usurpado que esteja a ser.
E porque certamente a chuva, quando bate, "não bate assim ..."
Estas são das tais razões que só os corações conhecem!
"...Navegar é preciso"!

quinta-feira, 8 de fevereiro de 2007

Em qualquer lado, sempre no céu!

Encontro-me, com alguma frequência, naqueles momentos de ensimesmamento, a meditar (ingenuamente) com alguma incredulidade, na sacralidade de uma ideia, facto ou lugar. Isso acontece comigo, ou com qualquer um outro ser humano, nesta maneira de o ser à portuguesa, neste asceptismo lusitano que outros, noutros tempos e por outras razões, também assim adjectivaram (falando, por exemplo, do carácter nacional português ou do lusotropicalismo)! Porque sempre me senti a viver num céu!
Desde criança, naquele pequeno jardim paradisíaco que era a minha Vimaranis, que interiorizei a noção de tempo cósmico, de céu terreno que os horizontes da catequese vivida no dia-a-dia conseguiam transpôr para os espíritos mais abertos a esta inteligibilidade emocional! Sem tabelas de preços, individuais ou familiares, que este pão era para todos!
Já em Lisboa, nessa de outras eras, aprendi a assumir a cidadania, nessa urbanicização de que todos nós, rurais por natureza, precisamos para nos cosmopolitizarmos! Numa era (Aquarius), muito forte em idealismos versus autoritarismos!

Quem com ferros mata ...

Vejo que meu mui citado mestre JAM ainda persiste (nessa insistência tão inacabada como o é a infinitude do Verbo com que a natura mater nos constituiu) na senda das justificações do seu SIM, naquela procura de, mais além, algo termos que nos enriqueça, se não na Sapiência ou na Prudência, pelo menos na Técnica. Dentro ou fora de qualquer ideia utilitarista, apriorística ou não. Por uma simples razão prática, alguns dos argumentos ali evocados serviriam, de igual modo, para fundamentar as duas beligerantes hostes nesta guerra da IVG, pois, nas palavras do douto cânone, "a utilidade não constitui o critério máximo da vida".
E, porque amanhã ainda é sexta-feira, desejo ao meu mestre as melhoras, sempre naquela insistência tão inacabada como a infinitude do Verbo com que a natura mater nos constituiu ...!

quarta-feira, 7 de fevereiro de 2007

Sinais do Tempo

Continuo ... pensando que nalgumas das situações mais complexas da vida, pelo menos nessas, tenho de pensar como vivo, mesmo que continue a querer, conscientemente, viver como penso. Não me vejo, a mim como a qualquer outro ser humano (sapiens sapiens), a viver o lindíssimo sentimento de liberdade (natural) de outra forma ou segundo outra premissa que não essa!


Continuo a rever-me na constante e serena consolação de aprender, contemplando, naquele conhecer sem sabor, sem prefiguração, sem ante nem post, sem alto nem baixo, sem lado nem limite que o reduza a qualquer desejo que não seja o de beber a encarnação redundante, sem ânsia de ser o que sempre foi, o da plena liberdade que nos traz a serena consolação de aprender, contemplando!
Resta-me, portanto, a preocupação que nos traz a transparência das ilusões com que perpassam as verdades da sedução non stop, nesse estilo do verbo moderno que é o das mentes industrializadas, hiper racionalizadas, economicamente desenvolvidas com o sofisma da pseudo humanização do Mundo, que é a constante mensagem que acompanha a poluição com que prebendam os povos que continuam a aprender, contemplando, nessa serena consolação que é a da plena liberdade de continuar a ser!

segunda-feira, 5 de fevereiro de 2007

Somos apenas o que a vida depositou em nós

Gostei de revisitar , mais uma vez, o "Ortogal", e de lá ter encontrado, a partir de uma evocação ao nosso Agostinho da Silva, este trecho musical que me lembrou uma das mais conhecidas interpretações de Joan Baez, ainda de finais dos anos 60:

"«Conhecemos tão pouco da vida, do mecanismo complexo que deve ser este do mundo que, segundo me parece, o decidir-se não tem grande valor, senão no que respeita à estima que poderemos manter por nós próprios, à confiança que talvez seja absurda, mas que em todo caso nos permite viver. Creio que, sejam quais forem as circunstâncias, tanto faz decidir-se depois de ter pensado bem um ponto como decidir-se atirando a moeda ao ar... »
Agostinho da Silva, Sete Cartas a Um Jovem Filósofo"

Eu diria aqui, ainda, que cada um de nós é uma parte da vida que não se repete, nesta constante repetição que a vida é feita.
Ela dá-nos tanto quanto cada um consegue percebê-la, nessa acepção meramente existencialista do sentido de posse, que é o mesmo que dizer que o ter é conhecermo-nos, como já diziam os helenistas pitagóricos, pretendendo assim traduzir a vida e o mundo perceptível (percepcionado): quando acedemos ao conhecimento da vida, que em nós mesmos se manifesta, sabemos que somos apenas o que a vida depositou em nós, que quando já não somos é a vida que se recupera, porque só somos a vida e não apenas o que pensamos dela, e que tudo o mais pertence, como um artefacto da ilusão, ao vácuo da imaginação fantasiada, único fundamento dos egoísmos impertinentes (ou egos absurdos).