domingo, 24 de dezembro de 2006

Hino à Galáxia Lusa

Revejo-me a contemplar a velocidade do TGV a 'correr' atrás do Hino à 7ª Galáxia, do Chick Corea e os Return to Forever, mas o que aqui reproduzo é o meu deslumbramento pela capacidade do nosso "Zezito" (designativo bastante afectuoso que alguém, escrevendo-o numa revista portuguesa semanal, se lembrou de rebuscar nas suas origens societais), ou melhor do nosso PM , correr à frente da vaga neo-lib, com todas as seduções, repulsas e contradições que têm norteado a semi-consciente "política de cose-casacas" para a pobretança.
Por isso, lembrei-me de um excelente senhor compositor neo-melancólico, com uma riqueza de sonoridades instrumentais que, tenho a certeza, se o nosso Zez... PM a ouvir, ficará mais descansado quanto à sacralidade da sua moral, que é como quem diz, em paz consigo mesmo, já que a tarefa é árdua ... lá isso é! E, de um modo geral, tenho de lhe 'tirar o chapéu', já que tem tido coragens que merecem alguma admiração. Mas ... aqui fica este trecho "Inocente", para apaziguamento das almas ... . Neste época natalícia, sobretudo, não fica mal a ninguém!!!
Keith Jarrett with Jan Garbarek (Innocence - Personal Mountains)

"Epitaph" ao jeito de uma profecia dos Crimsom

Como prenda de Natal, para alguns intelectualóides ...
Já que a História nunca acaba, mas sempre se repete ... o que há mais de trinta anos foi cantado, numa época bem libertacionária, ainda hoje (ou, talvez, hoje mais que nunca) serve para traduzir, não obrigatoriamente em calão, os sentimentos e a revolta que brotam de uma consternação e crítica inconformista, apontadores proféticos de modelos societais que, muito certamente, estão ou estarão para ruir ... todos expressos, em síntese poética, na letra de uma composição da banda que já considerei, musicalmente, o melhor grupo de rock de todos os tempos - os King Crimson.






KING CRIMSON lyrics

sábado, 23 de dezembro de 2006

Pela Amizade, pelo Natal, pelos amigos da Natividade

Há já muitos anos que não ouvia este meu CD do Buster Williams Trio, que me merece uma estima muito especial, não só pelo estilo como pelas sonoridades "conservadoras-progressistas" dos trechos que aqui apresenta.

Também no Jazz se encontra muito para uma "musicologia da libertação". A única grande exigência que tem este tipo de música é, como na clássica, a de uma apurada sensibilidade musical e, acima de tudo, um total alheamento de preconceitos xenófobos (ou, se preferirmos ainda, uma abstracção total em relação a estereótipos musicais).

Nesta quadra, em que se anunciam novas ou reforçadas amizades, partilho este

A Beautiful Friendship (Buster Williams - Tokudo)


E, porque depois de amanhã continuará este nevoeiro sebastiânico, recomendo este rol de sensações do mesmo álbum, que é
Someday My Prince Will Come

quinta-feira, 21 de dezembro de 2006

Primus Inter Pares

Reconheço-me em quase tudo quanto o meu mui citado Mestre JAM refere neste seu postal, numa alusão a estes "horizontes quase perdidos" do futuro do nosso sistema educativo. Claro que, ao nível da docência no superior, o mal entrópico 'apita' mais, tem outros canais de manifestação de algumas retroacções que o 'submundo' ou o nível inferior que é o Ensino Secundário não tem. Nem se vislumbram forças capazes de perfurar tão enraízadas "muralhas de aço" que amordaçam o Poder, mesmo que de um poder efectivamente reformador se trate!

Lembro-me de há umas semanas atrás, por exemplo, alguns se terem queixado ao nosso PR de uma como que vaga de 'assalto' de ultra-direitas à juventude escolar portuguesa! Pois eu, que neste nível de "submundo" ando há duas décadas, tenho visto por todo o lado o radicalismo, xenofobismo antrop-politológico, o numenclaturismo próprio dos totalitarismos neo-jacobinistas, com processos de linchamento das vozes de alguma crítica construtiva, apenas destrutiva do que está mal para todos, não apenas para alguns!

O que Mestre JAM está lamentando tem raízes muito mais profundas que apenas os claustros universitários, com promiscuidades cúmplices da verborreia situacionistaa, que veste de cravos vermelhos todos os 25 de Abril, para no dia seguinte negociar mais uma percentagem de um qualquer "assunto de interesse para a colectividade" (?) ...!

Mas vem isto a propósito desta rúbrica que ora começa e, creio, não poderia ter melhor começo do que incluir aqui, no nosso "Refúgio dos Profetas", esta "bicada" de Mestre JAM:

"Primeiro, a aula. Só depois, o capítulo...

Li as referências noticiosas sobre discurso de boas intenções do Senhor Primeiro Ministro quanto ao ensino superior. Acredito na determinação governamental quanto à anunciada terapia de choque. Nunca acreditei no modelo, até agora dominante, dos que querem conservar o que está, até porque nunca demonstraram querer conservar o que deve ser. Assistirei, com todo o zelo de homem livre, ao desenrolar de um processo onde a minha cidadania académica não foi, nem será, chamada a participar, mas a que responderei com lealdade aos valores e nas funções de professor catedrático e senador da minha universidade.

Sugiro apenas que não queiram descobrir o que já está descoberto nem inventar o que já está inventado: a ideia de universidade e os modelos de sucesso. Já agora acrescentem-lhe a experimentação de séculos de serviço público em Portugal, nacionalizando as excelentes ideias importadas pelos relatórios da OCDE e de outras agências globalizadoras, sem as traduzirem em calão. Os oligarcas da universidade a que chegámos preferiram a ditadura do "statu quo", outros começam a pensar no leilão e, enquanto o pau vai e vem, haverá sempre alguns primitivos actuais que aproveitarão para rapar os últimos restos do tacho, pintando-se de falsos dom-sebastiões, quando não passam de tigres de papel, repetindo o herético "dominus vobisque" de outras eras.

A história há-de registar em notas-pé-de-página este livro de estilo charlatão, onde todos vão ralhar porque falta o pão orçamental, o posto de vencimento e o diabo a quatro. Alguns até serão ousados e tentarão transformar as respectivas instituições em subdelegações das delegações asiáticas de certas potências universitárias do primeiro mundo, à espera dos futuros despedimentos da deslocalização globalizadora. Outros, percebendo que são fortes grupos de pressão corporativos, continuarão a assobiar para o lado, porque se consideram, e são, "praeter decretum", dos decretinos ocupantes do aparelho de Estado. Os restantes, perante tanta geometria variável, correrão para o acaso da encomendação feudal.

Por mim, sorrio, embora saiba que sofrerei no lombo a chicotada que deveria caber aos pecadores. Mas continuarei seguindo o lema de Hernâni Cidade: "primeiro, a aula, só depois o capítulo". O ensino superior continua à procura do bom senso, mesmo que ele seja Gago, mas não Coutinho. Falta-lhe um corrector de rumos colectivo a que na navegação se chamou sextante."

posted by JAM

segunda-feira, 4 de dezembro de 2006

Reminiscências Mediterrânicas

Quanto a Cat Stevens, ainda se há-de falar ...
Mais tarde, quando as ocupações docentes não nos ocuparem tanto deste precioso tempo que é devido aos alunos (que são o principal objecto de trabalho para um professor mais preocupado com os fins do que com os meios, sem que quaisquer fins justifiquem quaisquer meios), tentaremos aqui fazer a apologia deste convertido ao islamismo, de que agora pouco se fala, esperando que este "apagão" não se deva ao receio de ser mais um dos alinhados no "eixo do mal"!
Aliás, muitas das mensagens que compôs nas letras das suas canções são de um interesse sócio-antropológico pertinente, tanto na altura em que foram criadas como, mesmo, para os nossos dias!
Por agora deixo, apenas, esta belíssima recordação musical, que em tantas susceptibilidades, certamente, tocará o que, muito subjectivamente, já não conseguimos recordar! Sobretudo esta mélange de melodias euro-mediterrânicas, que no coração do Mundo ecoa o quanto devemos, como nós portugueses, ao que evocam estes acordes de bazuki!

Cat Stevens (Rubylove - Teaser and the Firecat)

quarta-feira, 22 de novembro de 2006

Take Action for Missing Tibetans!

On September 30, a group of over 70 Tibetans were attempting to cross the Nangpa Pass into Nepal from Tibet when they were fired upon by China's People's Armed Police. Eyewitness reports confirm the death of Kelsang Namtso, a 17 year old Tibetan nun who was shot in the back. Video footage of the shooting shows that at least two other Tibetans were shot during the incident, but the injuries do not appear to have been fatal.

While 43 Tibetans from the group made it to Nepal, the whereabouts of the others remains unknown, including at least 10 children aged 6 to 10 who were taken into custody at the site of the shooting by Chinese police.
You can voice your concern for the missing by signing this online petition to the UN High Commissioner for Human Rights, calling on her to investigate and confirm the status and well being of the missing Tibetan children and adults.
Children and other Tibetans captured by the PAP
after the shooting are led away from advance base
camp.
Dangerous Crossing
Teams of international climbers witnessed the incident, occurring near Mount Cho Oyu on the Tibet-Nepal border. Photos and eyewitness accounts confirm that at least three Tibetans were shot and an unknown number taken into custody, including at least 10 children as young as six.

One of the climbers, British police officer Steve Lawes, was among a group of climbers and Sherpas at Cho Oyu's base camp who witnessed both the shooting and the subsequent capture of the Tibetan children who were marched into advance base camp by three soldiers with assault rifles. Mr Lawes said: "The children were in single file, about six feet away from me. They didn't see us - they weren't looking around the way kids normally would, they were too frightened. By that time, advance base camp was crawling with soldiers. They had pretty much taken over, and the atmosphere was very intimidating. We were doing our best not to do anything that might spark off more violence."

China's False Claims
Last month, China's state-run Xinhua news agency reported that a group of Tibetan "stowaways" ignored requests to turn around and "attacked the soldiers", who were then "forced to defend themselves". The statement also claimed that only one Tibetan died, resulting from "altitude sickness."

Despite eyewitness accounts and photographic evidence, the Chinese Government has refused to acknowledge what really happened at Nangpa La, leaving the missing Tibetans in serious danger if their situation is not raised by the international community. Therefore, ICT calls upon the Office of the High Commissioner for Human Rights to open an investigation leading to the confirmation of the whereabouts and wellbeing of the Tibetans who are missing or have been detained as a result of the Nangpa La shooting.
Take Action!
Join ICT in supporting the missing Nangpa La refugees by signing this online petition calling on the UN High Commissioner for Human Rights, Ms. Louise Arbour, to confirm the whereabouts and wellbeing of the missing Tibetans.
In solidarity,
International Campaign for Tibet
International Campaign for Tibet 1825 Jefferson Place NW Washington, DC 20036 United States of America
Phone: (202) 785-1515 Fax: (202) 785-4343 info@savetibet.org
ICT Europe Vijzelstraat 77 1017HG Amsterdam The Netherlands
Phone: +31 (0)20 3308265 Fax: +31 (0)20 3308266 icteurope@savetibet.org
ICT Deutschland e.V. Marienstr. 30 10117 Berlin Germany
Phone: +49 (0)30 27879086 Fax: +49 (0)30 27879087 ict-d@savetibet.org

sábado, 11 de novembro de 2006

Revisionismos dos novos tempos

Prof. JP dos Santos v Durão Barroso, Kautsky v Bernstein, Sócrates v classe média (?), Congresso do PS … “Tudo Isto é Fado”!

Começa a ter algum interesse espreitar sobre a comunicacionologia (à maneira discreta de JJ Gonçalves), que nos últimos dias vamos vendo entrar pelas janelas dos nossos sentidos, uma vez descodificadas as mensagens da dita: o rei mundial dos cyberdólares (B Gates) fala a Barroso, depois de uma lição dada por outro português sobre as nossas potencialidades económico-empresariais − de aposta “naquilo em que sempre somos bons”, mostrando assim Durão, bom aluno que é, que:

«Durão Barroso

“É dramaticamente urgente” a internacionalização das empresas portuguesas

Carlos Filipe Mendonça
carlosmendonca@mediafin.pt
O presidente da Comissão Europeia, Durão Barroso afirmou hoje que "é dramaticamente urgente que as empresas portuguesas compreendam que só com o mercado nacional não vão lá".

À chegada ao Conselho para a Globalização, promovido pelo Presidente da República, Cavaco Silva, que está a decorrer em Sintra, Durão Barroso disse que "neste momento somos 500 milhões de consumidores na União Europeia mais do que americanos e russos juntos".
O presidente da Comissão diz ter vindo "explicar o que estamos a fazer na Europa em matéria globalização e sublinhar que este processo não é uma ameaça mas sim um desafio".»
, diz mais este artigo do J Negócios.
Ao mesmo tempo, e ainda em terras lusas, vamos assistindo, televisivamente, a mais um Congresso do Partido da Rosa (sem a Luxemburgo, pois com essa estaria Kautsky contra o bernsteinianismo actual desta força partidária, a atestar pelo acerto das palavras do actual nº dois da hierarquia estatal quanto a um socialismo “moderno” versus esse “socialismo obsoleto”), onde Sócrates, sozinho porque com mais ninguém, vai compreendendo a nossa classe média, mas ainda no pressuposto de que “o socialismo só seria possível se fosse ele o herdeiro de um capitalismo inteiramente desenvolvido. (…) Assim, a Social Democracia não deveria atacar os liberais. Os liberais seriam os seus melhores aliados, porque a Social Democracia só teria êxito se fosse o sucessor cronológico e intelectual do liberalismo. Daqui uma tese reformista ou gradualista — baseada na análise da própria realidade: "o socialismo está já, actualmente, sendo realizado aos poucos." [1]
Que me resta dizer, então?
O fado de Amália!!!
Tudo Isto É Fado

Perguntaste-me outro dia
se eu sabia o que era o fado.
Eu disse que não sabia,
tu ficaste admirado.
Sem saber o que dizia,
eu menti naquela hora.
E disse que não sabia,
mas vou-te dizer agora.
Almas vencidas,
noites perdidas,
sombras bizarras.
Na mouraria,
canta um rufia,
choram guitarras.
Amor, ciúme,
cinzas e lume,
dor e pecado.
Tudo isto existe.
Tudo isto é triste.
Tudo isto é fado!
Se queres ser o meu senhor
e teres-me sempre a teu lado,
não me fales só de amor
fala-me também do fado.
Que o fado, que é meu castigo,
só nasceu p'ra me perder.
O fado é tudo o que eu digo
mais o que eu não sei dizer.


Amália Rodrigues, "Abbey Road 1952"

[1] Freitas do Amaral, Diogo, História das Ideias Políticas, vol. II, Lisboa, 1998, pp. 236-237.

segunda-feira, 30 de outubro de 2006

Hinos à hiper-razão dos mitos

O Eterno Retorno dos Mitos

Cumpro-me ao escrever o reflexo que a vida diz em mim. De vez em quando, porque não consigo fazê-lo sempre que, talvez, o devesse dizer aos outros para que, assim , todos possamos ser uma Voz que a Vida ouça, sindicando os males que já ninguém ousa denunciar! Pois que seja esse o pecado comunal, já que esse Todo mais que a soma das partes nos parece, cada vez mais, utopia de sobremesa de intelectuais irrequietos, na ânsia de ainda mostrarem que estão à altura de merecer o saque a que nos prostou a sua falta de coragem! E não digo nomes, nem funções, nem ocupações, nem tão pouco refiro relações! Nessa senda da falta de coragem, ainda dentro da coragem de o escrever!
Apetece citar algo do que leio, e por esse meio também me revejo no que vou vendo serem verdades porque se vêem, sem necessitar de outro espelho que não seja o da realidade que alguns gostariam que não alcançássemos. Pois só assim se sentem heróis! São os coroados pela frustração que querem partilhar com os outros, como se esse fosse o espelho da sua própria cobardia! A sua própria imagem chega para a negação que, no fundo, vêm de si mesmos, e esse é o único elemento que, no abismo da sua existência, lhes tapa a visão da inevitável fatalidade em que sabem viver! Como se o anticristo fosse outro deus feito pelos homens!
Também eu não dou para esse peditório! Não faço essa minha viagem de ser, em cada dia que passa, um pouco mais do sonho que não nos deixam alcançar! Por isso, atendi a esta peça de mais um dos 'bravos' que escrevem no Jornal de Negócios, e que aqui apresento pela primeira vez. Sem o conhecer, sei que o tenho de referenciar!
"A herança de Nietzsche
Alexandre Brandão da Veiga
O cidadão comum, na acepção do homem que aparece em público, tem uma visão sumária do que seja o pensamento de Nietzsche. O mito do eterno retorno, a oposição apolíneo/dionisíaco, ...
O mito do eterno retorno, a oposição apolíneo/dionisíaco, o super-homem, o anticristianismo, a libertação das barreiras morais são os lugares-comuns com que vê a sua obra.

Como quase todos os fundadores da modernidade, Nietzsche é um antimoderno. A modernidade vive desta contradição. É das raras épocas instauradas pelos seus principais detractores. Baudelaire, Proust, Thomas Mann, Goethe, Tocqueville, Gauss, Cantor, Bergson, Chateaubriand, Maxwell. A lista seria interminável e longa de demonstrar. Da física à matemática, da literatura à filosofia e ao pensamento político, Nietzsche integra-se nesta lista infindável.

Herdeiro de Maistre, do pensamento e do estilo francês que tanto admira e começa com Montaigne mas vai até aos românticos, Nietzsche é o grande cultor e a grande vítima do equívoco. Usado pelos nazis, liberais económicos fundamentalistas, extrema-esquerda e altermundialistas (tantos parentescos que têm entre si) para destruir em fronte comum o cristianismo e a noção de tradição e de hierarquia perene, não podia ser mais afastado de todos eles.

O mito do eterno retorno bebeu-o de herança grega e influência indo-europeia (persa e indiana). O problema é que confundiu com retorno o que mais não é que a experiência da identidade na sua imensa estranheza e insistência. A oposição apolíneo e dionisíaco esquece que pelo menos a realidade grega se pode chamar de olímpica nas suas maiores obras. A Ilíada é olímpica e não dionisíaca nem apolínea. A Odisseia é atenaica. Nem Apolo nem Dionisios têm algum papel relevante nela. Hesíodo é olímpico e ctónico. A cada deus se pode cotejar um estilo. E isto esquecendo as divindades ctónicas, e o culto dos heróis. A sua genial interpretação da cultura grega é mais um mote para agir no presente e futuro que uma rigorosa descrição da cultura grega. O super-homem não o encontraria nem na personagem da banda desenhada nem em Hitler, mas talvez mais em Robert Schumann e Alcide de Gasperi, para espanto dos incautos. Os que se sentem herdeiros do seu anticristianismo não percebem que estão dele bem mais afastados que os fervorosos cristãos. Só alguém com uma fervorosa ligação a Cristo vive obcecado em negar o seu ensinamento. A libertação das barreiras morais não significa, como julgam alguns, que tudo vale, mas que só quem tudo vale tudo pode.

Aqueles que se valem de Nietzsche no espaço público, sobretudo os que dele nunca ouviram falar, são das mais variadas espécies zoológicas. Fundamentalistas islâmicos ou do mercado, altermundialistas, libertários de costumes, estetas de autocarro, europeístas da tecnicidade pura. No final de contas, todas as modalidades de acefalia lógica e espiritual da nossa época. A ironia é que estes seus seguidores seriam os primeiros a ser desprezados pelo filósofo.

É que quem vê o Nietzsche de versão vulgata esquece assim as suas vertentes mais importantes: o espírito aristocrático, a exigência moral absoluta, seu amor pela Europa e a importância do estilo.

O espírito aristocrático bebeu-o Nietzsche em fonte grega, mas em geral na indo-europeística. A cultura alemã do fim do século XIX estava a anos-luz do resto do mundo nesta matéria, só tendo havido real recuperação francesa, inglesa e mais tarde russa, na primeira metade do século XX. Já na altura se percebiam as raízes profundamente aristocráticas do pensamento indo-europeu. Basta ver a Ilíada, ou o Mahabaratha. O pensamento aristocrático é alimentado de absoluto (o Bhrama védico, por exemplo), de espírito heróico (o super homem é apenas mais um dos retornos do tema heróico), de uma cultura de desprezo pela menoridade.

A exigência moral absoluta é apenas um dos seus corolários. Quem se reivindica de Nietzsche para justificar o relaxamento moral não se pode enganar mais na porta. Se o dito apocalíptico é o "sede perfeitos como o Pai é perfeito" o de Nietzsche seria "sede vivos como o Pai é vivo". O império da vida é o domínio da exigência moral sem limites, tudo o contrário do relativismo, da tolerância ou do relaxamento. O que Nietzsche critica no cristianismo é a sua falta de exigência, de tolerância pelos fracos, pelos menorizados, os subdesenvolvidos. Nietzsche não quer deitar fora o cristianismo para libertar a vivência tola e incontrolada. Quer uma moral bem mais exigente, sem perdão, sem culpas e consequentemente sem desculpas. Assim sendo, citar Nietzsche querendo dar ideia de que se é democrático de espírito só pode enganar desprevenidos.

Nietzsche é, por outro lado, um dos maiores amantes da Europa, e um profeta da sua unificação. Nietzsche profetizou que a unificação da Europa se faria pela via democrática e aí estaria tanto a sua salvação como os seus maiores perigos. É dos primeiros a sentir a americanização da Europa já no fim do século XIX, no caso pela frenética vivência do tempo. Os mesmos que condenam a Europa pelo seu frenesi esquecem-se que se esta sempre foi irrequieta, mas ser frenética herdou-o da filiação americana. A construção europeia deve-lhe muito, não nas suas modalidades, mas nas possibilidades intelectuais da sua realização.

É raro o grande escritor que não dê acento ao estilo. Falo obviamente apenas de grandes escritores. Apenas me lembro como excepção de Tchekov. É o único caso de imenso escritor em que o estilo claudica (falo em tradução, mas quem sabe da coisa afirma que o mesmo se passa em russo). Mas Nietzsche é talvez o único que fez um texto com o título "porque escrevo tão bem?", título chocante, mas infelizmente em que não se pode apontar crítica porque é eminentemente verdadeiro no seu caso. Quem actualmente se reivindica de Nietzsche mais uma vez se engana no caminho quando não valoriza e não exercita o grande estilo. Era herdeiro consciente da imensa tradição literária francesa e embora seja exagerado dizer que foi por sua via que o grande estilo entrou na literatura alemã, a verdade é que é juntamente com Mann o prosador alemão que mais intensamente liga a consciência do estilo com o seu exercício.

Os seguidores de Nietzsche no espaço público, quando invocam o nome, a obra ou sobretudo os seus argumentos, dizendo que superaram o pensamento cristão, que tudo é relativo, que a Europa é multicultural, esquecem-se que o fundo do pensamento de Nietzsche é ser ele mesmo o templo reconstruído, e no "nulla salus sine ecclesia" ser ele a igreja. Obra de titã, obra de herói, obra de majestade mas absolutamente impiedosa. "Deus morreu" tem muitas leituras, desde a histórica e sociológica, até à metafísica, e em certo sentido mesmo alguma leitura teológica um pouco menos ortodoxa (Cristo-Homem morreu na cruz, mas afinal era Deus, logo...). Mas Nietzsche sabia que a morte de Deus libertava o mundo. E para lá de bem e mal. Para a forma primeva, para o fundamental, mas um fundamental que é um abismo. Nietzsche atira para o abismo quem dele se aproxima, e poucos conseguem nadar nas águas dele.

Que implicações para o espaço público desta equivoca e demérita leitura de Nietzsche a que assistimos diariamente? Mais uma vez se pode pensar que apenas faço exercício de esteta ou que nada do que digo releva para o espaço público.

A parte mais importante do Assim Falava encontra-se na dança de Zaratustra. Sinto-me bem acompanhado nesta perspectiva, porque Jung a aceita e Heidegger não deitaria esta ideia fora. O ideal de Nietzsche é o homem que dança. É simples de se ver. O homem que dança tem a inteligência em todo o corpo e não apenas no cérebro. É por esta perspectiva que Nietzsche, mais que grande filósofo, é grande teólogo, sobretudo teólogo moral.

Mas o problema dos que rasgam horizontes é que deixam farrapos no caminho e na paisagem para que abriram as vistas. A sua moral de impiedade virou-se contra si, não lhe perdoando o fracasso perante a obra heróica. A grandeza de Nietzsche foi ter aberto como nunca antes uma caixa de Pandora na qual nem no fundo viu esperança. O homem público que queira ser seguidor mais ou menos confesso de Nietzsche tem de ser assim perguntado. E perguntado da seguinte forma: Danças? És impiedoso perante a fraqueza? Desprezas o insucesso? É-te inevitável desprezares-te falhando?

É que ou se segue Nietzsche por inteiro ou apenas às fatias. E Nietzsche às fatias é vácuo de sentido. Não se larga o cristianismo senão para um destino heróico simultaneamente individual e impessoal. Ou então está-se largar o cristianismo para o substituir por coisa nenhuma. Mas isso não é ser seguidor de Nietzsche. É apenas ser vazio. Não seguem ninguém. Apenas se vêem ao espelho."

E, dos hinos da minha imaginação libertística, lembro-me de mais esta composição dos America, ainda de tempos em que sonhar era, quotidianamente, como mais uma curva na estrada da vida ...




(America, Donkey Jaw, album America)

Donkey Jaw
Ah, get behind me satan
Quit ravishing the land
Does it take the children
To make you understand?
Ah, all across the nation
People don't understand
Does it take the children
To make a better land?
Then, get behind me satan
Quit ravishing the land
Does it take the children
To make you understand?
Does it take the children
To make a better land?

Hinos à hiper-razão dos mitos

O Eterno Retorno dos Mitos

Cumpro-me ao escrever o reflexo que a vida diz em mim. De vez em quando, porque não consigo fazê-lo sempre que, talvez, o devesse dizer aos outros para que, assim , todos possamos ser uma Voz que a Vida ouça, sindicando os males que já ninguém ousa denunciar! Pois que seja esse o pecado comunal, já que esse Todo mais que a soma das partes nos parece, cada vez mais, utopia de sobremesa de intelectuais irrequietos, na ânsia de ainda mostrarem que estão à altura de merecer o saque a que nos prostou a sua falta de coragem! E não digo nomes, nem funções, nem ocupações, nem tão pouco refiro relações! Nessa senda da falta de coragem, ainda dentro da coragem de o escrever!
Apetece citar algo do que leio, e por esse meio também me revejo no que vou vendo serem verdades porque se vêem, sem necessitar de outro espelho que não seja o da realidade que alguns gostariam que não alcançássemos. Pois só assim se sentem heróis! São os coroados pela frustração que querem partilhar com os outros, como se esse fosse o espelho da sua própria cobardia! A sua própria imagem chega para a negação que, no fundo, vêm de si mesmos, e esse é o único elemento que, no abismo da sua existência, lhes tapa a visão da inevitável fatalidade em que sabem viver! Como se o anticristo fosse outro deus feito pelos homens!
Também eu não dou para esse peditório! Não faço essa minha viagem de ser, em cada dia que passa, um pouco mais do sonho que não nos deixam alcançar! Por isso, atendi a esta peça de mais um dos 'bravos' que escrevem no Jornal de Negócios, e que aqui apresento pela primeira vez. Sem o conhecer, sei que o tenho de referenciar!
7y
"A herança de Nietzsche
Alexandre Brandão da Veiga
O cidadão comum, na acepção do homem que aparece em público, tem uma visão sumária do que seja o pensamento de Nietzsche. O mito do eterno retorno, a oposição apolíneo/dionisíaco, ...
O mito do eterno retorno, a oposição apolíneo/dionisíaco, o super-homem, o anticristianismo, a libertação das barreiras morais são os lugares-comuns com que vê a sua obra.

Como quase todos os fundadores da modernidade, Nietzsche é um antimoderno. A modernidade vive desta contradição. É das raras épocas instauradas pelos seus principais detractores. Baudelaire, Proust, Thomas Mann, Goethe, Tocqueville, Gauss, Cantor, Bergson, Chateaubriand, Maxwell. A lista seria interminável e longa de demonstrar. Da física à matemática, da literatura à filosofia e ao pensamento político, Nietzsche integra-se nesta lista infindável.

Herdeiro de Maistre, do pensamento e do estilo francês que tanto admira e começa com Montaigne mas vai até aos românticos, Nietzsche é o grande cultor e a grande vítima do equívoco. Usado pelos nazis, liberais económicos fundamentalistas, extrema-esquerda e altermundialistas (tantos parentescos que têm entre si) para destruir em fronte comum o cristianismo e a noção de tradição e de hierarquia perene, não podia ser mais afastado de todos eles.

O mito do eterno retorno bebeu-o de herança grega e influência indo-europeia (persa e indiana). O problema é que confundiu com retorno o que mais não é que a experiência da identidade na sua imensa estranheza e insistência. A oposição apolíneo e dionisíaco esquece que pelo menos a realidade grega se pode chamar de olímpica nas suas maiores obras. A Ilíada é olímpica e não dionisíaca nem apolínea. A Odisseia é atenaica. Nem Apolo nem Dionisios têm algum papel relevante nela. Hesíodo é olímpico e ctónico. A cada deus se pode cotejar um estilo. E isto esquecendo as divindades ctónicas, e o culto dos heróis. A sua genial interpretação da cultura grega é mais um mote para agir no presente e futuro que uma rigorosa descrição da cultura grega. O super-homem não o encontraria nem na personagem da banda desenhada nem em Hitler, mas talvez mais em Robert Schumann e Alcide de Gasperi, para espanto dos incautos. Os que se sentem herdeiros do seu anticristianismo não percebem que estão dele bem mais afastados que os fervorosos cristãos. Só alguém com uma fervorosa ligação a Cristo vive obcecado em negar o seu ensinamento. A libertação das barreiras morais não significa, como julgam alguns, que tudo vale, mas que só quem tudo vale tudo pode.

Aqueles que se valem de Nietzsche no espaço público, sobretudo os que dele nunca ouviram falar, são das mais variadas espécies zoológicas. Fundamentalistas islâmicos ou do mercado, altermundialistas, libertários de costumes, estetas de autocarro, europeístas da tecnicidade pura. No final de contas, todas as modalidades de acefalia lógica e espiritual da nossa época. A ironia é que estes seus seguidores seriam os primeiros a ser desprezados pelo filósofo.

É que quem vê o Nietzsche de versão vulgata esquece assim as suas vertentes mais importantes: o espírito aristocrático, a exigência moral absoluta, seu amor pela Europa e a importância do estilo.

O espírito aristocrático bebeu-o Nietzsche em fonte grega, mas em geral na indo-europeística. A cultura alemã do fim do século XIX estava a anos-luz do resto do mundo nesta matéria, só tendo havido real recuperação francesa, inglesa e mais tarde russa, na primeira metade do século XX. Já na altura se percebiam as raízes profundamente aristocráticas do pensamento indo-europeu. Basta ver a Ilíada, ou o Mahabaratha. O pensamento aristocrático é alimentado de absoluto (o Bhrama védico, por exemplo), de espírito heróico (o super homem é apenas mais um dos retornos do tema heróico), de uma cultura de desprezo pela menoridade.

A exigência moral absoluta é apenas um dos seus corolários. Quem se reivindica de Nietzsche para justificar o relaxamento moral não se pode enganar mais na porta. Se o dito apocalíptico é o "sede perfeitos como o Pai é perfeito" o de Nietzsche seria "sede vivos como o Pai é vivo". O império da vida é o domínio da exigência moral sem limites, tudo o contrário do relativismo, da tolerância ou do relaxamento. O que Nietzsche critica no cristianismo é a sua falta de exigência, de tolerância pelos fracos, pelos menorizados, os subdesenvolvidos. Nietzsche não quer deitar fora o cristianismo para libertar a vivência tola e incontrolada. Quer uma moral bem mais exigente, sem perdão, sem culpas e consequentemente sem desculpas. Assim sendo, citar Nietzsche querendo dar ideia de que se é democrático de espírito só pode enganar desprevenidos.

Nietzsche é, por outro lado, um dos maiores amantes da Europa, e um profeta da sua unificação. Nietzsche profetizou que a unificação da Europa se faria pela via democrática e aí estaria tanto a sua salvação como os seus maiores perigos. É dos primeiros a sentir a americanização da Europa já no fim do século XIX, no caso pela frenética vivência do tempo. Os mesmos que condenam a Europa pelo seu frenesi esquecem-se que se esta sempre foi irrequieta, mas ser frenética herdou-o da filiação americana. A construção europeia deve-lhe muito, não nas suas modalidades, mas nas possibilidades intelectuais da sua realização.

É raro o grande escritor que não dê acento ao estilo. Falo obviamente apenas de grandes escritores. Apenas me lembro como excepção de Tchekov. É o único caso de imenso escritor em que o estilo claudica (falo em tradução, mas quem sabe da coisa afirma que o mesmo se passa em russo). Mas Nietzsche é talvez o único que fez um texto com o título "porque escrevo tão bem?", título chocante, mas infelizmente em que não se pode apontar crítica porque é eminentemente verdadeiro no seu caso. Quem actualmente se reivindica de Nietzsche mais uma vez se engana no caminho quando não valoriza e não exercita o grande estilo. Era herdeiro consciente da imensa tradição literária francesa e embora seja exagerado dizer que foi por sua via que o grande estilo entrou na literatura alemã, a verdade é que é juntamente com Mann o prosador alemão que mais intensamente liga a consciência do estilo com o seu exercício.

Os seguidores de Nietzsche no espaço público, quando invocam o nome, a obra ou sobretudo os seus argumentos, dizendo que superaram o pensamento cristão, que tudo é relativo, que a Europa é multicultural, esquecem-se que o fundo do pensamento de Nietzsche é ser ele mesmo o templo reconstruído, e no "nulla salus sine ecclesia" ser ele a igreja. Obra de titã, obra de herói, obra de majestade mas absolutamente impiedosa. "Deus morreu" tem muitas leituras, desde a histórica e sociológica, até à metafísica, e em certo sentido mesmo alguma leitura teológica um pouco menos ortodoxa (Cristo-Homem morreu na cruz, mas afinal era Deus, logo...). Mas Nietzsche sabia que a morte de Deus libertava o mundo. E para lá de bem e mal. Para a forma primeva, para o fundamental, mas um fundamental que é um abismo. Nietzsche atira para o abismo quem dele se aproxima, e poucos conseguem nadar nas águas dele.

Que implicações para o espaço público desta equivoca e demérita leitura de Nietzsche a que assistimos diariamente? Mais uma vez se pode pensar que apenas faço exercício de esteta ou que nada do que digo releva para o espaço público.

A parte mais importante do Assim Falava encontra-se na dança de Zaratustra. Sinto-me bem acompanhado nesta perspectiva, porque Jung a aceita e Heidegger não deitaria esta ideia fora. O ideal de Nietzsche é o homem que dança. É simples de se ver. O homem que dança tem a inteligência em todo o corpo e não apenas no cérebro. É por esta perspectiva que Nietzsche, mais que grande filósofo, é grande teólogo, sobretudo teólogo moral.

Mas o problema dos que rasgam horizontes é que deixam farrapos no caminho e na paisagem para que abriram as vistas. A sua moral de impiedade virou-se contra si, não lhe perdoando o fracasso perante a obra heróica. A grandeza de Nietzsche foi ter aberto como nunca antes uma caixa de Pandora na qual nem no fundo viu esperança. O homem público que queira ser seguidor mais ou menos confesso de Nietzsche tem de ser assim perguntado. E perguntado da seguinte forma: Danças? És impiedoso perante a fraqueza? Desprezas o insucesso? É-te inevitável desprezares-te falhando?

É que ou se segue Nietzsche por inteiro ou apenas às fatias. E Nietzsche às fatias é vácuo de sentido. Não se larga o cristianismo senão para um destino heróico simultaneamente individual e impessoal. Ou então está-se largar o cristianismo para o substituir por coisa nenhuma. Mas isso não é ser seguidor de Nietzsche. É apenas ser vazio. Não seguem ninguém. Apenas se vêem ao espelho."

E, dos hinos da minha imaginação libertística, lembro-me de mais esta composição dos America, ainda de tempos em que so nhar era, quotidianamente, como mais uma curva na estrada da vida ...


(America, Donkey Jaw, album America)

Donkey Jaw
Ah, get behind me satan
Quit ravishing the land
Does it take the children
To make you understand?
Ah, all across the nation
People don't understand
Does it take the children
To make a better land?
Then, get behind me satan
Quit ravishing the land
Does it take the children
To make you understand?
Does it take the children
To make a better land?

segunda-feira, 16 de outubro de 2006

Tibetan Refugees Shot by Chinese Soldiers

A caçada aos tibetanos continua, promovendo a diplomacia europeia e mundial a mais uma candidatura à ineficácia do Direito Internacional.



Aqui transcrevo o texto em inglês que, juntamente com a peça que, creio, corre o Mundo inteiro, me chegou da ICT (ver o sidebar do blogue).

"Membership Action Alert on Nangpa Shootings
Dear Tibet friend,

Over the last week you will have seen ICT's detailed reports on the shooting of Tibetans by Chinese military personnel near the Tibet-Nepal border on 30 September. Thus far, ICT can confirm that a 17-year old nun was killed in the incident, as Tibetans fleeing into exile were fired upon while crossing the snowy Nangpa Pass on the refugee route to Nepal. Nine children aged between 6 and 10 years.

The incident occurred in the vicinity of the Cho Oyu Mountain advanced base camp and was witnessed by as many as 40 western climbers from various countries. Last week ICT was able to obtain direct eyewitness information from the climbers. By Wednesday ICT had obtained its first photograph from the scene, and by Friday ICT was receiving video footage from a Romanian TV crew that had been filming a climbing team in the region. Watch the video footage of the shootings at http://www.protv.ro/stiri/international/exclusive-footage-of-chinese-soldiers-shooting-at-tibetan-pilgrims.html.

ICT was able to confirm this weekend that the young Tibetan male filmed hiding from the Chinese military in the video footage did indeed reach Nepal safely and is now at the Tibetan Reception Centre in Kathmandu.

ICT has been working hard on this case, both through its field team in Nepal and via its communications and government relations teams, alerting the media, informing on the story and engaging governments to pressure an official explanation from the Chinese government. The Chinese State Media agency Xinhua has said the soldiers acted in self-defence. Video footage of the incident proves that this response to the killing of an unarmed nun and the firing of live ammunition at children as young as 6 is unacceptable!

On 19 October EU officials will meet Chinese officials as part of their bi-annual Human Rights Dialogue. We urge you to contact your MP and your Foreign Affairs Minister to condemn the killings and demand that your government condemn this incident directly to the Chinese government.

Take action at www.savetibet.org/action

Thank you for your support!
/The ICT Campaigns Team

Press Clippings

Video Footage at YouTube
www.youtube.com/watch?v=w1oq0hb7C0c

Reuters Article
http://today.reuters.co.uk/news/CrisesArticle.aspx?storyId=PEK359293&WTmodLoc=World-R5-Alertnet-4"

Oxalá, para breve, chegue a libertação!

quinta-feira, 12 de outubro de 2006

Against corruption, "Sacred Words Of Liberation"

Contemplando ... o que a razão consegue apreender ... e ensinar aos mais novos!...

Vejo-me e revejo-me nestes últimos artigos deste arti(culi)sta que é o Sérgio Figueiredo. Não por qualquer identificação, ideológica (implícita) ou outra, mas também pelo seu sentido de oportunidade! Esta 'tirada' (sobre a prioridade institucional atribuída ao combate à corrupção) vem mesmo na altura certa! E, também por coincidência ou não, tenho alunos de Ciência Política motivados para a pesquisa sobre o tema, na "Área de Projecto". Ali, será enquadrado conceptualmente nos "Desvios Sociais", que é como quem diz, dos alunos que temos, que apesar de estarem classificados, comparativamente à escala internacional, como pouco produtivos (a dita ineficácia do sistema de ensino, ou, melholr dizendo, a ineficácia que conduz à tal baixa produtividade ...), eles atestam-nos da atenção com que a sociedade civil sente e vive o este problema social específico.
É, acima de tudo, uma questão sócio-política fundamental, numa sociedade composta por homens que, queira-se ou não, vivem cabalmente segundo o alinhamento conceptual da espécie "homo sapiens sapiens"! Ou seja, é uma questão que se reportará, sempre, ao ambiente cívico da CIDADANIA!!!
Querendo ser vós activa, se não decisiva, pelo menos que tenhamos voz participativa no processo!
Bem haja a todos por tudo isso! Da minha parte, uma prece,
através da evocação de um trecho do Lama Gyurme - Sacred Words Of Liberation


"Corrupção no OE
Não é por acaso que Portugal sobe na tabela internacional da corrupção e não pára de descer no ranking da competitividade. Afinal, as duas coisas estão ligadas. A corrupção é um obstáculo sério ao progresso económico de uma nação.

Sérgio Figueiredo
É sobretudo uma perversão moral, fonte de exclusão social.
Não temos estatísticas credíveis sobre a prática de crimes económicos. Mas temos a certeza de que o fenómeno existe e tende a generalizar-se. O sistema de justiça não funciona. E a impunidade é o desfecho certo dos casos mais mediatizados. Resultado? A dissuasão não existe, propaga-se a ideia de que o crime compensa.

O que o Presidente da República veio dizer é que não pode ser assim. Não pode, nem deve. Por isso veio convocar toda a gente para atacar o flagelo. Colocar o tema da corrupção na agenda significa uma caça às bruxas? Obviamente que sim.

A sociedade tem de ser confrontada com os nódulos do sistema, tem de identificar os seus tumores, extirpá-los um a um, agir onde os processos emperram, apurar responsabilidades, enfim, limpar a máquina e pô-la a funcionar.

Senão continuamos no discurso politicamente correcto. Senão a intervenção de Cavaco Silva vai para o arquivo-morto do Palácio de Belém, onde jazem tantos discursos, igualmente bem-intencionados, do doutor Jorge Sampaio e outros Presidentes da República. Porque os presidentes mudam, mas a República não.

Senão não haverá um verdadeiro estímulo para a sociedade mudar de atitude. Mesmo que os políticos disponibilizem mais recursos. Como vai acontecer no próximo ano, num Orçamento de aperto, mas que reforça as transferências financeiras para quem está na linha da frente deste combate.

É muito importante que o Governo responda ao apelo do Presidente. E é muito importante que a atitude não morra com o pretexto de que falta dinheiro. E, neste país, a falta de dinheiro serve de pretexto para justificar tudo.

Atacar a corrupção pode não ser suficiente. Falta qualidade nas organizações partidárias. Há o défice de participação da sociedade civil. A força dos monopólios no sector privado.
A fragilidade do poder das instituições.

Mas ignorar o problema, esconder os sintomas, calar as vozes que falam, mesmo as que falam pelas piores razões, é contribuir, ainda que passivamente, para que jamais nos libertemos desta maldita crise nacional. E da incapacidade de nos levarmos a sério.

Enganam-se aqueles que pensam que os crimes económicos são um problema à parte do problema da economia. Análises empíricas mostram que os níveis de investimento são mais elevados nos países onde é elevada a percepção de combate aos crimes de "colarinho branco". O Banco Mundial também tem resultados que confirmam a correlação entre a corrupção na administração pública e o desempenho das empresas.

O investimento, estrangeiro ou nacional, depende da qualidade do ambiente de negócios de um país. O bom ambiente de negócios pressupõe um Estado de confiança. E este Estado é, finalmente, o garante do exercício da justiça, da estabilidade das regras, da previsibilidade na conduta das instituições e da transparência nas decisões.

O país perdeu-se, há muito, e não se sabe em que parte, nesta sequência virtuosa. O que o Estado nos está a indicar no seu Orçamento para o próximo ano é, não tanto os milhões a mais para a PJ ou para o Ministério Público, mas a definição clara de uma prioridade. E, entre as suas prioridades, o país não tem só de equilibrar as contas públicas. Precisa urgentemente de recuperar alguns dos valores mais básicos. Como a decência."

sábado, 23 de setembro de 2006

Que ninguém me diga que é apolítico

Qualquer dia faço uma Sebenta de “Textos de Crítica” politológica.

Não posso deixar de alertar o meu mui citado mestre JAM da pertinência destes textos que por aqui e por outras bandas da imprensa nacional vou lendo com atenção, de forma a que a Escola que, por tradição já secular, se devota ao pensamento político em Portugal, tenha estas publicações em consideração, pelo devido respeito académico que merecem.
Não é caso para menos, com estes artigos de opinião. Eu cá tinha as minhas razões para me sentir intrigado com a transbordante pertinência dos conteúdos de algumas rubricas que uma meia dúzia de articulistas do Jornal de Negócios deixa sair da pena das suas mãos. E não me enganei. Penso que felizmente, pois todos devemos, certamente, beneficiar com isso, não apenas porque assistimos a uma exemplar manifestação de liberdade de expressão; ou tão somente porque lemos num jornal temático linhas de prosa que nos mostram realidades que ultrapassam a categoria dos temas de que deveriam tratar. Não.
Este Jornal é um grande exemplo do que qualquer órgão de comunicação social (seja ele público ou, mesmo, privado) deve cumprir, de forma a que a Comunicação Social se torne definitivamente, no nosso País, na instituição que assume a missão a que por natureza (social) está vinculada: a de ser o principal Observatório Social, veículo dos fluxos da informação pública multidireccionada (recebida e emitida, ascendente e descendente) que interessa à sociedade descodificar e gerir.

Só assim, entendo eu e muitos, todos participaremos (democraticamente) na organização (definição, edificação, manutenção, desenvolvimento e regulação) do sistema social a que, inevitavelmente, pertencemos. E, por isso, que ninguém me diga que é apolítico. Há dois milénios e meio que Aristóteles negou essa pretensão, sobretudo àqueles que, pelas mais variadas justificações, se alheiam e afastam da realidade a que nenhum de nós (cidadãos que reclamamos viver em sociedade e em democracia) pode fugir: a da polis. Porque esta implica e exige tudo isto a que acabei de me referir. A partir
deste artigo do J. Negócios:

Os revolucionários do Beato
Pedro S. Guerreiro
psg@mediafin.pt

O Compromisso Portugal apresentou ontem várias propostas, muitas delas boas, outras que deviam ser Lei, algumas irrelevantes, poucas que não prestam e várias irrealizáveis.

É uma elite empresarial que é e será sempre acusada de querer trampolim para chegar ao poder governativo, de se afirmar como grupo de pressão com interesses próprios.

Podemos sempre suspeitar das motivações empresariais, políticas ou egocêntricas dos promotores; podemos sempre perguntar o que estão a fazer esta manhã pelo País aqueles que ontem à noite se deitaram com a boa consciência de terem cumprido o seu dever cívico; podemos sempre criticar quem propõe utopias mas jamais as testará – o programa eleitoral mais fácil de fazer é o do partido que sabe que não vai governar. Podemos sempre fazer isto tudo. Mas também podemos deixar a idade do armário e olhar para o que fica do Compromisso deste ano. Sem complacência, com exigência.

Quando Carrapatoso se declara revolucionário e contra os reaccionários, está (propositadamente?) a convocar a discussão em torno da acusação mais consistente feita ao Compromisso Portugal: a de que é um movimento que apresenta as suas propostas como não ideológicas mas que tem uma ideologia latente, mesmo escondida – a tecnocracia; a tese de que o País fica melhor entregue a gestores; o mito da solução única, que é a tecnicamente mais adequada. Como nas empresas.

É por isso que o poder político não comparece ao "rendez-vous" no Beato. Não quer valorizar. Não quer ver Carrapatosos, Mexias, Borges e Relvas a enfileirarem conquistas nos seus terrenos. Porque uma sociedade só percebe soluções técnicas se forem explicitadas ideologicamente, porque um Governo não é uma empresa, porque a despolitização dos assuntos distancia as pessoas, porque a glória de um movimento da sociedade civil é a desnecessidade dos partidos políticos – e são os partidos que interpretam a realidade. Ao invés, os tecnocratas do Compromisso Portugal falavam ontem do País com a mesma linguagem com que falam das empresas: a que aprenderam nos MBA. Posicionamento estratégico. Vantagens competitivas. Quotas de mercado. Nichos. Estratégia de competitividade.

O Compromisso Portugal nasceu como um contra-movimento a outro grupo de empresários, que assinou o "Manifesto dos 40" pedindo a defesa dos centros de decisão nacional. Os proteccionistas despertaram os liberais e estes venceram-nos. Esta é a nova geração, que já cresceu em democracia e sucede aos empresários que se zangaram com o País em 1975. Por isso, não tem contas a ajustar. Por isso, é gente pragmática, optimista, provocante, ambiciosa, que defende a economia de mercado, a concorrência. E é nesse deslumbramento que António Carrapatoso subverte a realidade e "desideologiza" a palavra "revolucionário", chamando de "reaccionários" provavelmente a gente do Bloco de Esquerda e dos sindicatos imobilistas.

No fim da jornada de ontem, sobra um incómodo: para que serviu isto? Seja o que for, não pode extinguir-se num estudo que se entrega a quem aprouver – o Compromisso Portugal é um movimento de elite, não é uma consultora. Ser grupo de pressão não é defeito – é virtude, mesmo que a sua força resulte mais da representatividade económica do que da popular.

A Convenção do Beato não foi um comício, foi uma reunião de trabalho. E dela emerge uma constatação: o Compromisso Portugal tem uma visão e apresenta medidas para a alcançar. E esse é um desafio lançado a um Governo que parece sempre aprisionado pela gestão aflita do quotidiano.

Para um País, o melhor está em quem quer gerir o Estado. O pior está em quem quer gerir o poder. No Governo ou no Compromisso.”

sexta-feira, 22 de setembro de 2006

Mas afinal ... que é que esta gente quer?

(Ou a felicidade de ser apenas um cidadão)
Encontros para debater questões meramente económicas não são! Convenções gerais de natureza partidária não parece, igualmente, traduzir o conteúdo das mensagens ou a finalidade das intenções.
Lembro-me de ter reparado nas notícias publicitadas que, na altura do primeiro destes encontros no Convento do Beato, fizeram furor pela "película de verniz" social, espelhada em tão notáveis autores de intervenções e assistência. Aparentemente, por razões socialmente objectivas ou por meras fobias subjectivamente germinadas nos cidadãos que vão acumulando complexos sócio-político-partidários e/ ou ideológicos geradores de frustações, só me lembro de ter uma sensação e uma ideia imediatas: medo, perante a provável elite tecnocrática, constituída a partir do mais que provável mixed "ring" da residual elite dominante e da contra-elite ao Poder. Toda ela político-economicamente liberal, capitalista e pseudo-aristocrática.
Segui, com atenção, as opiniões de dois comentadores do Jornal de Negócios:
"Políticos assumem poder sem estarem preparados e estão orientados para a conquista do voto
Susana Domingos
sdomingos@mediafin.pt


António Carrapatoso defendeu hoje que os Governos têm assumido o poder sem estarem preparados para tal, tendo uma orientação focalizada na conquista dos votos, considerando o Estado “fraco”. O responsável aponta ainda o dedo à sociedade civil que “é fraca e pouco interventiva”.

Estas foram as principais razões apontadas hoje pelo Compromisso Portugal, através de António Carrapatoso, para explicar as razões que levam a que as reformas não sejam eternamente adiadas em Portugal.

Para começar, a sociedade civil "é fraca e pouco interventiva" , existindo uma "incapacidade dos governos de estruturar e explicitar uma visão de verdadeira mudança, da forma como a sociedade está organizada e funciona", afirmou o responsável.

António Carrapatoso afirmou que "os Governos assumem o poder sem estarem preparados, sem terem um programa de mudança. Têm uma visão táctica orientada para a conquista do voto", adiantando que "os governos têm uma fraca capacidade de gestão".

Estado é pouco independente
Carrapatoso considera que "há um poder desproporcionado de corporações e outros grupos de interesse sobre o Estado", afirmando que o "Estado é fraco e pouco independente, o que obriga a que exista uma sociedade civil atenta".

Outra razão apontada para a não concretização das reformas é o "facto de existir uma opinião pública pouco esclarecida e com uma elevada resistência à mudança".

Atendendo a estas razões, só a força e pressão da sociedade civil e uma opinião pública esclarecida permitirão ultrapassar estes factores de "bloqueio" e "forçar"a realização das necessárias rupturas, defende António Carrapatoso.

Na intervenção que decorreu no Convento do Beato, o responsável afirmou que "o modelo social actualmente é insustentável e injusto", não criando "igualdade de oportunidades e um dos sinais é o abandono escolar de 40%".

No que toca à segurança do trabalho, "as leis rígidas só vão prejudicar e portanto o Compromisso Portugal defende a flexibilidade como uma forma positiva para assegurar a segurança no trabalho".

Quando se referiu à justiça em Portugal, António Carrapatoso definiu-a como "incapaz, corporativa" e que "não dá confiança ao cidadão". O responsável defende a mudança do sistema judicial "se queremos confiar nele".

"O sistema de saúde tem falta de indicadores claros da sua eficiência. A qualidade ambiental tem vindo a degradar-se e, sem fazer convergência entre interesses da economia e do ambiente, até a economia fica posta em causa no longo-prazo".

Cidadão precisa de ser responsabilizado e valorizado
António Carrapatoso defendeu ainda que "o cidadão tem de ser responsabilizado e valorizado. Os direitos sociais têm de ser claramente definidos, o Estado tem de ser forte, independente e subsidiário e tem de existir flexibilidade".

O responsável acrescentou que "o modelo social tem de ser capitalizado mas mantendo pensões mínimas sociais".
"Compromisso na prática
Sérgio Figueiredo
sf@mediafin.pt


Uma nota prévia: agora que são conhecidos os seis documentos de base à discussão na Convenção do Beato, sem sombra de dúvidas que a qualidade do trabalho e da matéria de reflexão subiu vertiginosamente face à primeira iniciativa que o Compromisso Portugal realizou há dois anos.
O método deste ano partiu de grupos de trabalho, liderados por relatores, que produziram umas "versões preliminares", debatidas e aperfeiçoadas pelo "plenário" dos vinte e tal promotores principais.

Contrasta, para melhor, com o "improviso" de 2004, em que a Convenção foi baseada nas intervenções de mais de uma dezena de "estrelas", que ali desfilaram durante um dia inteiro. O Compromisso amadureceu, apresenta trabalho mais estruturado e essa é a primeira utilidade que a nossa classe empresarial dali pode extrair: há um exemplo que revela a diferença entre os resultados produzidos em equipa e aqueles que se obtêm a partir de iniciativas individuais.

Por mais brilhantes que sejam, os espanhóis habituaram-se a partilhar riscos, a unir esforços, a trocar informação, a dividir até clientes e seguirem em consórcio para mercados internacionais e projectos de grande dimensão. Ainda somos o país do "cada um por si" e essa atitude é uma barreira invisível para a competitividade.

Assim, sem ainda ter começado, esta segunda Convenção do Beato já está melhor do que a primeira. Longe de ser perfeita. Longe de ser equilibrada. Longe de ser uniformemente eficaz nas seis áreas que são propostas para a agenda nacional.

O que traz então concretamente de novo o Compromisso para Portugal?
O exercício mais completo e mais prático, até hoje conhecido, sobre a redefinição das funções do Estado. O relatório assinado por Fernando Pacheco e Nogueira Leite explora as boas práticas internacionais. Sobretudo na Educação, na Saúde e na Administração Pública. E adapta-as à nossa situação concreta.

Avança com metas quantificadas. Duplicar o peso dos privados na oferta de ensino. Aumentar, para cerca de um terço, a prestação de cuidados de saúde nos hospitais privados.

Estima impactos. E surpreende. É na gigantesca máquina pública, não tanto na cedência de funções sociais, é portanto no extermínio das grandes ineficiências do Estado que, à luz da experiência de Berlim, se obtêm as maiores poupanças.

Num curto espaço de tempo, o sistema de impostos pode ficar aliviado de 5 mil milhões de euros por ano. E quase 200 mil pessoas ficarão libertas para produzir algo de útil. Este trabalho já vale um Compromisso. Mas não o esgota.

No modelo social surgem as respostas que o PSD foi incapaz de dar. Sabemos, assim, os custos de transição para um sistema de capitalização: 155 mil milhões de euros. Uma barbaridade.
É proposto um método.

Emissão, anual, entre 2007 e 2051, de 3,5 mil milhões de dívida pública nova para pagar as actuais responsabilidades. Que implica, para o défice até 2051, um fardo anual de 0,6% do PIB só em pagamento de juros. E que a partir daí, com as amortizações, sobe para mais de 1% do PIB até ao fim do século. O exercício é meritório. A opção, propriamente dita, impraticável.

E há também um destaque muito especial para a Justiça e a Educação. E o mérito de enfrentar o reino das corporações. Dos juízes e dos professores. De colocar a transparência no centro das relações do Estado com os cidadãos.

De introduzir os mais básicos princípios de gestão. De premiar quem leva a sua profissão a sério. E castigar aqueles que não prestam contas, que atingiram o Nirvana, que confundem deliberadamente discrição com opacidade. E defendem o sistema.

Enfim, o sistema questiona-se e a elite autocritica-se. Essa é a parte mais estimulante do Compromisso Portugal."