domingo, 30 de julho de 2006

Kafka e Maquiavel nos Curriculos, já!(?)

Por que razões se deveria ensinar nas escolas Franz Kafka e Nicolau Maquiavel!
"Observatório admite que recrutamento de jovens nas escolas pela extrema-direita é preocupante

O presidente do Observatório da Segurança, Criminalidade Organizada e Terrorismo, Rui Pereira, admitiu hoje que o recrutamento de jovens nas escolas secundárias pela extrema-direita é preocupante, mas desdramatizou as consequências desta situação.

"Estas situações são sempre preocupantes, mas não atingem uma dimensão onde o Estado de Direito democrático está em perigo", afirmou.
"É preocupante no sentido que se tratam de jovens, pessoas que ainda estão a formar o seu conjunto de valores, mas não é dramático".
Segundo noticiou hoje o semanário “Expresso”, a extrema-direita tem vindo a recrutar, desde o início do ano, estudantes em escolas secundárias de todo o país.
A mesma notícia, que faz hoje manchete no jornal, refere que esta questão já foi objecto de um relatório da GNR, entregue na passada terça-feira ao Ministério da Administração Interna e da Educação.
"É meritório que a GNR e as forças de segurança estejam atentas a este tipo de situações", salientou Rui Pereira, defendendo uma actuação concertada e coerente entre a sociedade e as entidades de segurança de forma a travar a expansão de ideias de cariz xenófobo e racista.
"A sociedade no seu conjunto deve fazer, de uma forma muito persistente, a apologia de valores como o humanismo, solidariedade e igualdade".
Para Rui Pereira, esta situação também deve ser observada tendo em conta o actual panorama sociológico de Portugal. "Portugal passou de um país de emigração para um país de imigração. Atravessou um processo de desruralização e litorização. Os hábitos de consumo mudaram e a população está mais orientada para o consumo".
Rui Pereira fez ainda referência ao crescimento de uma criminalidade mais ligada ao tráfico e consumo de drogas. Um cenário que torna alguns jovens "mais vulneráveis" a determinadas mensagens e discursos, concluiu.
O Observatório foi constituído em Dezembro de 2004 com o objectivo de acompanhar, de forma sistemática, as questões da segurança, nomeadamente as relacionadas com o terrorismo e criminalidade organizada."
E eu pergunto-me se, nesta mesma perspectivação de preocupações (pelo menos ao nível institucional, a da relação entre a necessária disponibilidade para acompanhamento do Observatório neste domínio e as oficializadas informações que as instituições escolares disponibilizam para o efeito), não haverá história suficiente para dedução de uma inadmissível e escandalosa sectorização da esquerda radical na estigmatização personalista com que se administra a vida escolar (dá para evocar, muito ao jeito académico, a "luta escalonada pelo poder", in MOREIRA, Adriano, Ciència Política, Livraria Almedina, no tocante à linha estratégica com que, neste domínio do Sector Público, o contra-poder subterrâneo tomou de assalto os micro-poderes subestatais das decisões escolares).

quinta-feira, 20 de julho de 2006

"As contas que o governo não presta"

Que esta maiêutica anti-socrática possa “dar à luz” …
É uma legiítima pretensão de cidadania, sobretudo quando esta questão, apresentada por este articulista do J Negócios, assume contornos jurídico-político-constitucionais que nos permitem classificá-la como mais um facto político que sirva, paradigmaticamente, a pedagogia da democracia participativa. Não nos devemos contentar com os maquiavelismos, expostos e denunciados pelas pobres e residuais explicações, típicas dos policy makers, mesmo quando se atenuam pelo facto de nos serem, formalmente ou não, prestadas por responsáveis governamentais de posições mais baixas na hierarquia do Poder do Estado.
E, por isso, prezo sempre estas “tiradas” de informação/ reflexão, eu que também tenho um capital de queixas engendradas pelo défice democrático com que muitas das situações, por mim protagonizadas ou não, acabaram por me prejudicar, física, mental e, acima de tudo, profissionalmente, quando agi em conformidade com a minha consciência de cidadão e de funcionário da República.
Então, força rapazes! Mas cuidado, que “dar à luz” é, mais que uma “arte”, certamente um acto violento e, por isso, acarreta sempre alguns perigos, sobretudo quando a democracia se torna, eventualmente, numa miragem (!?...).
As contas que o Governo não presta
Pedro S. Guerreiro
psg@mediafin.pt

A manchete de ontem do Jornal de Negócios deu que falar. É natural: uma redução de 23% na reforma dos que hoje têm cerca de 35 a 40 anos não é coisa pouca. O Governo desmentiu. O Jornal de Negócios mantém.

E como a coisa se passa no campo da matemática é sempre mais fácil berrar do que explicar para conseguir convencer.

O Jornal de Negócios prefere explicar. É o que faz de novo, hoje ainda com mais detalhe, para que o leitor tenha a informação que necessita para decidir. É, também, aquilo que o Governo não faz: não dá todos os dados aos jornalistas, aos deputados, aos parceiros sociais – aos portugueses. É uma opção. Mas não é a melhor opção. E dizer que é impossível prever dados para as próximas décadas é atenuante mas não é desculpa.

A reforma da Segurança Social ainda nem iniciou o processo legislativo mas o Governo já dá o figurino como quase definitivo. Por isso, é nesta altura já uma obrigação (política e moral) prestar toda a informação para que qualquer português possa perceber o que lhe vai suceder. Há uma razão para que o Jornal de Negócios simule o que acontece a quem se reforme em 2030 e não o faça para quem se reforme em 2033 ou em 2027: é que a parca informação que foi revelada só permite fazer o cálculo para 2030...

O secretário de Estado da Segurança Social, Pedro Marques, apressou-se a ir à RTP dizer que o Jornal de Negócios estava errado. E preferiu afirmar que as pensões de quem se reformar em 2030 vão é aumentar 35%. Com a verdade me enganas. Estes 35% são a comparação entre o que um pensionista médio recebe hoje e o que vai receber no futuro. Mas com mais anos de contribuições e outras expectativas salariais. A comparação que o Jornal de Negócios entende como pertinente é também outra: é entre o que um pensionista receberá em 2030, perante as novas regras, e o que receberia se as regras se mantivessem como estão agora (e portanto sem compensar com mais anos de trabalho): menos 23%.

A diferença entre os +35% e os -23% não é matemática. É de pressupostos. É de seriedade. Se é verdade que as pensões aumentam 35% com as novas regras, elas aumentariam quase o dobro se nada mudasse.

O Governo fez uma proposta para reformar a Segurança Social corajosa, até engenhosa, competente e que tem o mérito de produzir efeitos para além dos ciclos de vida políticos. Pela primeira vez, este ano as despesas vão ser superiores às receitas e é neste contexto que esta reforma se assume como inadiável. Mas não há como negar: ou se trabalha mais tempo ou se recebe menos na reforma. E não havia outro caminho - excepto pagar mais impostos.

Mas o mesmo Governo que quer ficar com os louros da grande reforma não deve esconder o custo que ela comporta. Este é um assunto delicadíssimo na vida das pessoas. Elas têm o direito de perceber o seu caso pessoal. E isso o Governo não dá. Quando muito, dá exemplos. Desmente pressupostos sem explicar os seus. Liberta informação parcelar, incompleta, insuficiente. E assim dificulta a discussão esclarecida. Mas o assunto é demasiadamente importante para que não coloquemos questões e façamos o nosso trabalho de casa.

O que interessa não é o desmentido do secretário de Estado ou o brio profissional deste jornal. É a informação esclarecida a que todos os pensionistas, actuais e futuros, têm direito. As contas do Jornal de Negócios prestam. As contas do Governo, Pedro Marques não presta.”

"As lições do Senhor cinco por cento"

Numa tirada que provém dos contrastes entre a sorte de uns e a desfortuna dos outros muitos, mesmo com tiques à americana!


Retirado do Jornal de Negócios de ontem
Luísa Bessa
"As lições do «Senhor cinco por cento»
lbessa@mediafin.pt


A nova vaga de filantropos americanos foi há semanas tema de capa da «The Economist» que associava a foto do fundador da Microsoft ao sugestivo título de «Billantrophy».
A Fundação Gates, reforçada pela contribuição de Warren Buffett, tem um património de 65 mil milhões de dólares para prosseguir a sua acção no apoio aos países pobres no desenvolvimento de vacinas para doenças como a malária ou a luta contra a SIDA.

Na América dos primeiros anos do século XXI, onde o número de milionários se multiplica de forma nunca vista, não se esquece a mensagem de «devolver à sociedade» a riqueza acumulada ao longo da vida. Os dois casos referidos são de excepção, quer pela dimensão da dádiva, quer pelo facto de um milionário (Buffet) prescindir da ligação do legado à eternização do próprio nome, algo que aparece geralmente associado à contribuição caritativa ou mecenática.

Portugal não tem uma tradição filantrópica ao mesmo nível. Poder-se-á dizer que nunca criámos grandes fortunas e que as condições sociais e económicas são diferentes. Mas é sobretudo uma questão cultural, de assumir a responsabilidade individual perante a sociedade e de ruptura da lógica do legado familiar. Argumentos que podem explicar que nos fiquemos sobretudo pela caridadezinha.

A grande excepção nos nossos dias foi a criação da Fundação Champalimaud, com que António Champalimaud surpreendeu os seus contemporâneos.

Mas a verdadeira excepção não é obra de um português e aconteceu, como disse ontem António Barreto, pelo «mais extraordinário golpe de sorte» da história de Portugal.
A Fundação Gulbenkian instalou-se em Portugal pelas vicissitudes dos últimos anos de vida de um arménio, nascido turco, que ficou conhecido pelo cognome de «Senhor cinco por cento», em referência à forma como multiplicou a já vasta fortuna de família com os contratos petrolíferos da sua Iraq Petroelum Company.
Além de saber ganhar dinheiro, Gulbenkian tinha uma outra paixão: gostava do que era belo e tinha os meios para reunir as obras de arte que lhe estimulavam os sentidos e o conhecimento.
Foi a sua colecção que esteve na origem da Fundação. Pela sorte de que fala Barreto, a dádiva de Calouste Gulbenkian está em Portugal há 50 anos e há 50 anos a contribuir para a mudança e a modernização do país.
Foi durante anos o Ministério da Cultura que Portugal não tinha. Criou organismos residentes (a Orquestra e o Ballet, cuja extinção no ano passado foi por certo a decisão mais traumática da existência recente), apoiou os artistas, abriu museus. Levou os livros onde não havia bibliotecas nem dinheiro para os comprar. Apoiou os investigadores dentro e fora de portas, criou o Instituto Gulbenkian de Ciência.
Soube prosseguir os seus fins em prol da ciência, da educação, da arte e da caridade nos anos do Estado Novo e em democracia, adaptando-se à mudança dos tempos e ultrapassando períodos de maior imobilismo.
Talvez a grande lição da Gulbenkian seja o seu carácter de independência e de exigência. Num país onde impera a dependência do Estado e um entediante culto da mediania, é estimulante ouvir as palavras de Gulbenkian, citadas por Rui Vilar: «Only the best is enough for me».
O «Senhor cinco por cento», que deixou uma fundação que chegou a representar mais de 2,5% do PIB português, continua a dar-nos lições."

Um "coice" no ... Jardim

De vez em quando ... convém dar um ar mais fresco à casa! ...
Ou como mais esta do Jumento pode ajudar a perceber muito melhor a verdadeira essência da necessidade de esclarecimento do fenómeno político-administrativo ( jurídico-constitucionalmente institucionaliozado) que é a descentralização, na complexidade de todas aquelas suas vertentes (e que a jusante terão, também, as suas implicações estritamente socilógicas ou, por outras palavras, as suas consequências em termos de justiça social).
"AS CONTAS QUE AINDA NÃO FORAM FEITAS
Agora que o Alberto anda para aí a mandar bananas para o ar porque deixou de ter o poder da chantagem na AR, uma das maiores vantagens da maioria absoluta de Sócrates, talvez seja a ocasião para que se façam algumas contas que ainda não foram feitas. Receio que ao longo de anos e graças a uma classe política que não dorme a pensar em votos e em poder se tenham criado distorções na distribuição dos investimentos do Estado, dando lugar a muitas injustiças que vão muito para além das habitualmente referidas, a insularidade dos Açores e do território libertado pelo Alberto e a dicotomia entre o litoral e o interior.

Gostaria, por exemplo, de comparar os investimentos públicos realizados na Madeira e os feitos em Trás-os-Montes, o Algarve ou o Baixo Alentejo. E mesmo nessas regiões gostaria de comparar o que se investe nas cidades e o que se investe longe das capitais de distrito.

Seria interessante compararmos os rendimentos de uma exploração do Minho com as dos agricultores que se têm vindo a manifestar em Lisboa, e qual a parte desses rendimentos que correspondem a subsídios estatais.

Saber quem, de uma forma directa ou indirecta, mais beneficia das scuts, para aferir se o pagamento destas auto-estradas beneficia todas as populações do interior ou apenas os mais privilegiados das regiões que beneficiam desse regime. Também faria sentido avaliar o impacto económico do investimento que se faz em scuts para o comparar com o que resultaria de outras soluções que visem o desenvolvimento das regiões.

Seria útil para a compreensão do nosso sistema político conhecer a geografia política dos investimentos públicos, para percebermos se existem regiões abandonadas pelo Estado só porque não estão representadas nos aparelhos dos partidos no poder.

Poderei estar muito enganado, mas se um dia se fizerem estas e outras contas vamos perceber melhor porque razão este país não passa da cepa torta."

"Uma aventura na Madeira"

E ainda ... a propósito do "Sr. Silva",
Lembra-me aquela máxima do cinema português, de meados do século passado, pela boca do saudoso Vasco Santana (virado da rua para o também e não menos saudoso António Silva), quando acicatava, teimosamente, a paciência de quem queria, pacatamente, trabalhar: "Oh Evaristo, ... tens cá disto?"
Mais uma tirada da última do Jornal de Notícias, pela pena do:

Uma aventurana Madeira
A minha ideia de aventura alucinante seria entrar na cabeça de Alberto João Jardim e ver de lá de dentro o mundo durante uma hora. Se sobrevivesse a tão terrífica experiência, haveria de escrever de uma assentada a "Viagem à Lua", de Cirano de Bergerac, o "Tartarin de Tarascon", de Alphonse Daudet e os "Flinstones", de Hanna & Barbera, acrescentados com passagens selectas das"Lições de Finanças Públicas", do sargento Jean-Bedel Bokassa. A "Weltanschauung" de Jardim divide o Universo entre quem não lhe dá dinheiro para carnavais e futebóis (os "mafiosos", os "fariseus" e as "mulas da cooperativa", como era Guterres em 1997) e os "homens intelectualmente honestos" (como passou a ser o mesmo Guterres depois de, em 1999, ter pago 610 milhões de euros de dívidas da Região). Sócrates e o ministro das Finanças pertencem à primeira categoria, por pretenderem pôr cobro ao forrobodó orçamental da Madeira (1252 milhões sem tecto!), assim revelando "falta de patriotismo". Por isso Jardim já requereu ao ainda há pouco "Sr. Silva" que os demita e forme um "Governo de unidade nacional". Além disso, apanhando a boleia do Hezbollah, declarou, dizem os jornais, "guerra aberta" ao Orçamento de Estado. Todos para os abrigos, e cuidado com a carteira!

quarta-feira, 19 de julho de 2006

"Vem aí a retoma"

Dentro desta sinfonia, lembro-me da lei de ... Wagner, Adolfo (!?...), o que comprova que na Economia também há ... música!

Se o digo é porque o enredo desta "peça" social tem um vínculo muito particular, na economia da nossa sociedade paternalizada, com o inevitável comportamento que um Estado 'pai de familias' assume, como em qualquer outra situação sócio-política equivalente, pela quota parte que lhes cabe nos respectivos processos de desenvolvimento (o que acontece entre "os povos progressivos").
Desta forma, talvez esta seja "a vez" em que o nosso Estado vai tomar medidas que visem a racional e adequada "intensividade" da expansão das suas actividades, recuando sistematicamente na sua extensividade, como caminho para a redução da elasticidade-rendimento das despesas públicas (que se crê terá de ser inferior a 1).
Enquanto tal não acontecer, a 'sinfonia' será sempre a mesma, mesmo com 'melodias' evolutivas ...
Em mais uma tirada do Jornal de Negócios (esta com direito a maestria)
Sérgio Figueiredo
Vem aí a retoma!
sf@mediafin.pt
"Luís Afonso, que, sem uma única falha, nos faz companhia na página ao lado do editorial deste jornal há exactamente 798 dias, já podia publicar um livro com os diálogos das personagens SA, única e exclusivamente sobre a retoma.
Não falta imaginação ao melhor cartoonista da nossa imprensa, por estar sempre a bater no tema. Disse Alan Greenspan que é muito fácil «captar» a inversão do ciclo económico, visto que a última dos EUA foi anunciada por quatro vezes. A nossa também. A diferença é que, ao passo que a fase alta de crescimento americano já veio e está quase a ir embora, a nossa não.
Foi anunciada uma, duas, três, quatro vezes. Por um, dois, três governos diferentes. Mas não aconteceu. A recuperação nunca chegou de forma consistente, saudável e, menos ainda, vigorosa.
Por isso, o tema continua a dar largas à criatividade.
De cartoonistas. De analistas. De editorialistas. E de economistas que não têm como escapar ao exercício das previsões.
Volta a ser hoje o caso do cartoon de Luís Afonso. Porque foi o caso dos técnicos do departamento de estudos do Banco de Portugal, ontem. E é o caso deste texto, que, não obstante este calor abrasador, não deitará água fria sobre o anúncio que se repete: a retoma está a dar sinais de vida.
Parece que sim. Esperamos que sim. Queremos que seja efectivamente assim. Portugal está a pagar erros cometidos pelos seus agentes económicos, com o Estado à cabeça. Portugal está há demasiado tempo a perder o jogo da globalização, sofrendo efeitos rápidos e drásticos no sector mais exposto à concorrência.
Temos a esperança que esta vez seja de vez, que o cenário do banco central se confirme, que os nossos exportadores iniciem a recuperação dos mercados que andam há cinco anos a perder, que os investidores deixem de puxar isto para baixo e que o Estado permaneça fora da retoma. É esse o perfil que salta das novas projecções.
As exportações ganham quota este ano e conservam-na no próximo. É pouco? É óptimo, porque os nossos bens e serviços já acumulavam uma perda de 16% desde o ano 2000, sobretudo na Alemanha e outros mercados «invadidos» pelo Leste.
O investimento cai menos este ano e, para o ano, deixará de dar um contributo negativo ao PIB. Frustrante? É bom, porque prenuncia o fim de um desinvestimento que anda, desde 2001, a puxar isto para baixo.
E o Estado, ao contrário da saída da recessão de 1993, não é desta vez protagonista, pois modera o seu consumo e trava o investimento público. Que assim continue, para que a retoma não seja um novo «embustex».
Em outros momentos, parecia que a economia já havia batido no fundo. Chegou-se a celebrar outros sinais animadores do sector exportador. E muitos julgámos que, a partir daí, só podia ser a subir. O facto é que a economia voltou ao charco.
Não em 2004, ano do Euro, em que fizemos uma festa com algum PIB e muitas bandeirinhas na rua. Sabendo de antemão que a festança teria de ser paga. Nada de original. A Grécia também paga com menos crescimento os seus Jogos Olímpicos.
Vítor Constâncio tem uma frase marcante, «não há dúvida que a situação está a melhorar». E sublinha mudanças importantes na estrutura: mais tecnologia exportada, menor peso dos sectores tradicionais. É mais encorajador que dez estádios e dezenas de voos de turistas ocasionais.
Há sempre duas formas de olhar para um crescimento médio anual de 1,4%, projectado até 2007: é um dos piores da Europa; é o nosso melhor desta década. Prefiro dizer que o Banco de Portugal está errado. E, na próxima, volta a rever previsões em alta."

A outra sinfonia (de Wagner) que é lei ...!

Dentro desta sinfonia, lembro-me da lei de ... Wagner, Adolfo (!?...), o que comprova que na Economia também há ... música!

Se o digo é porque o enredo desta "peça" social tem um vínculo muito particular, na economia da nossa sociedade paternalizada, com o inevitável comportamento que um Estado 'pai de familias' assume, como em qualquer outra situação sócio-política equivalente, pela quota parte que lhes cabe nos respectivos processos de desenvolvimento (o que acontece entre "os povos progressivos").
Desta forma, talvez esta seja "a vez" em que o nosso Estado vai tomar medidas que visem a racional e adequada "intensividade" da expansão das suas actividades, recuando sistematicamente na sua extensividade, como caminho para a redução da elasticidade-rendimento das despesas públicas (que se crê terá de ser inferior a 1).
Enquanto tal não acontecer, a 'sinfonia' será sempre a mesma, mesmo com 'melodias' evolutivas ...
Em mais uma tirada do Jornal de Negócios (esta com direito a maestria)
Sérgio Figueiredo
Vem aí a retoma!
sf@mediafin.pt
"Luís Afonso, que, sem uma única falha, nos faz companhia na página ao lado do editorial deste jornal há exactamente 798 dias, já podia publicar um livro com os diálogos das personagens SA, única e exclusivamente sobre a retoma.
Não falta imaginação ao melhor cartoonista da nossa imprensa, por estar sempre a bater no tema. Disse Alan Greenspan que é muito fácil «captar» a inversão do ciclo económico, visto que a última dos EUA foi anunciada por quatro vezes. A nossa também. A diferença é que, ao passo que a fase alta de crescimento americano já veio e está quase a ir embora, a nossa não.
Foi anunciada uma, duas, três, quatro vezes. Por um, dois, três governos diferentes. Mas não aconteceu. A recuperação nunca chegou de forma consistente, saudável e, menos ainda, vigorosa.
Por isso, o tema continua a dar largas à criatividade.
De cartoonistas. De analistas. De editorialistas. E de economistas que não têm como escapar ao exercício das previsões.
Volta a ser hoje o caso do cartoon de Luís Afonso. Porque foi o caso dos técnicos do departamento de estudos do Banco de Portugal, ontem. E é o caso deste texto, que, não obstante este calor abrasador, não deitará água fria sobre o anúncio que se repete: a retoma está a dar sinais de vida.
Parece que sim. Esperamos que sim. Queremos que seja efectivamente assim. Portugal está a pagar erros cometidos pelos seus agentes económicos, com o Estado à cabeça. Portugal está há demasiado tempo a perder o jogo da globalização, sofrendo efeitos rápidos e drásticos no sector mais exposto à concorrência.
Temos a esperança que esta vez seja de vez, que o cenário do banco central se confirme, que os nossos exportadores iniciem a recuperação dos mercados que andam há cinco anos a perder, que os investidores deixem de puxar isto para baixo e que o Estado permaneça fora da retoma. É esse o perfil que salta das novas projecções.
As exportações ganham quota este ano e conservam-na no próximo. É pouco? É óptimo, porque os nossos bens e serviços já acumulavam uma perda de 16% desde o ano 2000, sobretudo na Alemanha e outros mercados «invadidos» pelo Leste.
O investimento cai menos este ano e, para o ano, deixará de dar um contributo negativo ao PIB. Frustrante? É bom, porque prenuncia o fim de um desinvestimento que anda, desde 2001, a puxar isto para baixo.
E o Estado, ao contrário da saída da recessão de 1993, não é desta vez protagonista, pois modera o seu consumo e trava o investimento público. Que assim continue, para que a retoma não seja um novo «embustex».
Em outros momentos, parecia que a economia já havia batido no fundo. Chegou-se a celebrar outros sinais animadores do sector exportador. E muitos julgámos que, a partir daí, só podia ser a subir. O facto é que a economia voltou ao charco.
Não em 2004, ano do Euro, em que fizemos uma festa com algum PIB e muitas bandeirinhas na rua. Sabendo de antemão que a festança teria de ser paga. Nada de original. A Grécia também paga com menos crescimento os seus Jogos Olímpicos.
Vítor Constâncio tem uma frase marcante, «não há dúvida que a situação está a melhorar». E sublinha mudanças importantes na estrutura: mais tecnologia exportada, menor peso dos sectores tradicionais. É mais encorajador que dez estádios e dezenas de voos de turistas ocasionais.
Há sempre duas formas de olhar para um crescimento médio anual de 1,4%, projectado até 2007: é um dos piores da Europa; é o nosso melhor desta década. Prefiro dizer que o Banco de Portugal está errado. E, na próxima, volta a rever previsões em alta."

terça-feira, 18 de julho de 2006

"Ópera em S. Petersburgo"

Mais uma composição musical deste Jornal de Negócios, de mais este autor a juntar à nossa lista branca!

Certamente que o vulgo cidadão, como qualquer um de nós em princípio o é, não tem de fazer ideia, nem lhe serão, talvez, dadas as condições que lhe permitam fazê-la, acerca do que, realmente, tratam os líderes das principais potências mundiais. Isso seria bom demais. O que nenhum homem ou mulher, que se julgue cidadão de qualquer sociedade, deve permitir a quem os governe, seja dentro da sua jurisdição nacional, seja no concerto das respectivas competências transnacionais, é que os actos de governo sejam de uma incompetência e irresponsabilidade que ultrapassam os limites da tolerância política e ofendem as próprias instituições que os designaram. Seja em que domínio orgânico for: na permanência dos 5, na segurança dos 15, na grandeza dos 8, etc., etc.!

Sérgio Figueiredo
"Ópera em S. Petersburgo
São Petersburgo está a comemorar o ano do centenário de Dmitri Shostakovich, que ali nasceu ainda no czarismo e consagrou-se um dos clássicos mais famosos do século XX.
Não foi, seguramente, a cimeira do G8 um acontecimento à altura das sinfonias, operas e outras obras do compositor russo. Ou soviético, porque foi, durante quase toda a sua vida, um ícone da revolução bolchevique.
A cimeira do G8 foi aliás um clássico, mas sem música. Um encontro de menores denominadores comuns. Uma simulação de entendimentos que não existem. Um encontro de parceiros que não emparceiram. Um ritual que acaba sempre numa declaração final. Que não declara nada. E que podia ser final, se nos fizesse o favor de ser a última.
Enfim, a Rússia recebeu ontem os EUA, o Japão, o Canadá e mais Barroso a liderar uma comitiva de quatro líderes europeus, para escrever algo que Shostakovich nunca fez: uma ópera bufa.
Não é que faltem problemas para resolver. Não é que grande parte desses problemas lhes passe à margem. Não é que estejam eles isentos de responsabilidades nos assuntos em agenda.
Nada disso, há problemas graves, parte desses problemas está a por em causa o modo de vida das sociedades que supostamente representam. E, o que é pior, são eles, presidentes e primeiro-ministros das nações mais ricas, o motivo que leva ao adiamento das soluções.
Vejamos a agenda inicialmente prevista para a Cimeira de S. Petersburgo: energia e comércio. Não é coisa pouca. E muito menos matéria para ficar apenas no plano da retórica.
Pois bem, pressionados pelos acontecimentos do Líbano (ou, mais concretamente, pelos media internacionais, que estão naturalmente concentrados naquele cenário de pré-guerra), três presidentes e cinco primeiro-ministros tomaram duas decisões: produzir uma lenga-lenga sem conteúdo em matéria de segurança de abastecimentos energéticos; reduzir as negociações sobre liberalização do comércio mundial a coisa alguma.
Exceptuando a Rússia, nenhum dos países do G8 pode dormir em tranquilidade perante a radical transformação que está a ocorrer no plano energético à escala global. E todos os outros países, sobretudo os europeus, têm pesadelos com as reais intenções de Moscovo em matéria energética.
Aliás, não foi Chirac ou até Berlusconi que, há poucos meses, foi ao «antigo império», numa capital do Báltico, avisar Putin que não podia continuar a utilizar os seus recursos de energia para «fazer chantagem» com o resto da Europa. Foi Cheney, o homem que os americanos insistem eleger para a vice-Presidência.
A declaração final sobre segurança energética prefere evidenciar uma divergência sobre o nuclear. Assunto para jornalista ver. Porque é assunto menor. O único que eles pensam que nos deixam ver. É certo que não escondem o acesso aos mercados. E que, em uníssono, voltam a declarar o «apoio aos princípios da Carta de Energia».
A renovação de uma hipocrisia chamada de Tratado há doze anos e que a Rússia, a anfitriã, nunca ratificou nem pensa vir a ratificar. Mas ninguém ousa sequer lembrar a crise Rússia-Ucrânia, em que dois dias bastaram (dois dias!...) para metade da UE sofrer, em pleno Inverno, rupturas de abastecimento de gás.
Sobre comércio internacional, sobre a OMC, sai um ultimato para os negociadores negociarem. Um auto-ultimato. Shostakovich, que foi Primeiro Secretário da União dos Compositores Soviéticos e recebeu o Prémio Lenine, a medalha do herói trabalhador socialista, deveria estar vivo para compor uma sinfonia para este regime. Pelo menos, a música ouvia-se..."

quinta-feira, 13 de julho de 2006

Ou a Escola do Lirismo musical

A poesia lírica também teve aqui escola! Este Rod Stewart foi um dos seus expoentes!
E de como eu, por ter "ripado" este trecho (que "Pode Ouvir enquanto Lê", no sidebar) de um dos blogues feito com alma, pois o seu espírito está presente desde que o sentimos 'arrancar', e por isso o considero dos mais in da blogosfera (antes de dizer que estou ... 'apaixonado' pelo "Poetry Café", a sério, talvez por ser mais romântico do que penso de mim mesmo, confesso que devo uma desculpa e/ ou um agradecimento ao seu autor pelo que dele obtive), deixo aqui a referência a uma das mais belas composições de amor que conheço do universo do Rock - I Don't Want to Talk About It - aqui interpretado por (creio) Emerson Nogueira (cito):
I Don’t Want To Talk about It

I can tell by your eyes that you've prob'bly been cryin' forever,
and the stars in the sky don't mean nothin' to you, they're a mirror.
I don't want to talk about it, how you broke my heart.
If I stay here just a little bit longer,
If I stay here, won't you listen to my heart, whoa, my heart?
If I stand all alone, will the shadow hide the colors of my heart;
blue for the tears, black for the night's fears.
The stars in the sky don't mean nothin' to you, they're a mirror.
I don't want to talk about it, how you broke my heart.
If I stay here just a little bit longer,
if I stay here, won't you listen to my heart, whoa, my heart?
If I stand all alone, will the shadow hide the colors of my heart;
blue for the tears, black for the night's fears.
The stars in the sky don't mean nothin' to you, they're a mirror.
I don't want to talk about it, how you broke my heart.
If I stay here just a little bit longer,
if I stay here, won't you listen to my heart, whoa, my heart?
To my heart, whoa, my heart.
(Tirada, a partir do Google)

"O Estado danação"

Esta também subscrevo, pelo menos no espírito do seu conteúdo!

Em mais esta tirada do Jornal de Negócios, de mais um autor a juntar à nossa lista branca.
(A "danação" não é minha, mas do autor deste artigo)

Pedro S. Guerreiro

"O Estado danação
psg@mediafin.pt

Uma vez por ano, é assim: os deputados despedem-se para férias com um debate sobre o Estado da Nação. Oportunidade para sublimar feitos e atacar defeitos. Oportunidade perdida, talvez.
O que interessa não é o desempenho do Governo e da Oposição, é a discussão do País. Importa o futuro dos nossos filhos, não o de Sócrates e Marques Mendes.
É na Justiça e na Educação que melhor se está a avançar. Porque os ministros começaram bem: evitando o vício de implodir primeiro para construir de novo, estão a gerir sistemas doentes mudando as regras do jogo. Um mais placidamente que a outra, Alberto Costa e Maria de Lurdes Rodrigues estão a recuperar o poder que foi capturado pelas corporações profissionais. Na Justiça, em vez de rasgar códigos jurídicos, Alberto Costa faz um trabalho de formiguinha que introduz eficiência (e gestão!) no mapa judiciário. Na Educação, em vez de rasgar os programas curriculares, Maria de Lurdes Rodrigues faz a gestão dos recursos humanos.
O paradoxo é que nem Alberto Costa nem Maria de Lurdes Rodrigues se apresentam como visionários ou missionários. Eles não começaram por contra-reformas nem anunciaram revoluções magníficas. Estão a desatar nós górdios com soluções simples. Mas incómodas. Em troca recebem a contestação de classes profissionais inteiras. Não podia ser de outra forma.
Veja-se o contraponto na Saúde. Aí temos um ministro competentíssimo mas refém das grandes medidas. Começou por fazer tábua rasa das políticas anteriores, cancelando os Hospitais SA, quando devia tê-los mantido mas corrigido o desarrumo em que estavam. E a afronta aos poderes desmesurados das farmácias são uma evolução fantástica para o País, mas não chega para que melhorar a Saúde. Portugal não precisa de soluções incrementais, mas de assumir rupturas; não deve contentar-se com um passo de cada vez na Segurança Social ou na reforma administrativa, mas encarar as dores de parto necessárias para mudar de vida.
O que é decisivo para o País não é a discussão do encerramento das maternidades, quantos dias de férias tem um juiz ou se é bom os professores terem de deixar de dar explicações porque agora têm de estar nas escolas mesmo no período fora de aulas. A questão essencial é se estamos a mudar a natureza do Estado, as suas funções, a maneira como ele se relaciona lá dentro e para fora. E a nossa disponibilidade para aceitar a mudança e fazer parte dela, sermos tão exigentes connosco como com quem nos governa: Sócrates tem o mérito da coragem e Marques Mendes o mérito de aceitar o melhor dessa coragem (o PSD tem «deixado» fazer muitas reformas e evitado muitas demagogias – é notável como não embandeirou na última greve geral da função pública). Mas e nós?
Nós devemos começar por ser exigentes no que valorizamos. Um exemplo: há dois dias, este jornal fez manchete com a notícia de que a Federação Portuguesa de Futebol quer que os prémios dos jogadores no Mundial sejam isentos de tributação. As reacções multiplicaram-se, o debate foi intenso e até o Presidente da República falou. Henrique Medina Carreira não quis comentar, porque disse que era um assunto de chacha. A verdade é quando este mesmo jornal, poucos dias antes, fez uma outra manchete com a proposta de alteração da política de benefícios fiscais, aí ouviu-se silêncio, «no comments». Mas para o futuro do País, é a política fiscal que interessa, não a chachada do futebol. Senão não estamos a debater o Estado da Nação, mas o estádio, o estábulo ou outra danação qualquer."

O IRS e o futebol

Como este colunista já não me espanta, em artigo de que também estou em (in) digestão!

Em mais uma das "última" do JN de ontem
"Festa"estragada

"Exactamente no dia em que o ministro das Finanças avisava os portugueses de que "o apertar do cinto vai continuar", Gilberto Madail, presidente da FPF, anunciou que iria pedir ao Governo que jogadores e técnicos da selecção fossem isentos de IRS sobre os prémios de participação no "Mundial" 50 mil euros cada um. Pudor (para não falar de bom senso) não é, pelos vistos, o forte de Madail. Mas pretender que profissionais milionários não paguem os mesmos impostos que pagam todos os outros portugueses só não é um insulto, como afirmou o fiscalista Saldanha Sanches, por vir de quem vem. Quantos portugueses ganham em 10 anos os mesmos 50 mil euros que cada jogador da selecção vai receber de "prémio"? OK, meteram golos e defenderam "penáltis"; e os médicos, que salvam vidas (as dos jogadores de futebol e a de Madail incluídas)?, e os professores, que formam gerações?, e os cientistas, os artistas, os empresários, os operários, todos os profissionais competentes, como os jogadores da selecção, na profissão que têm?, não são, também eles, "heróis", não prestigiam, também eles, o país, não o carregam todos os dias penosamente às costas? Madail deveria ter vergonha, mas a vergonha, no dirigismo do futebol, não tem lugar nem no banco."

quarta-feira, 12 de julho de 2006

"Lucros de papel"

Embora ficando a cogitar nos ganhos, talvez ao povo não interesse saber quanto nem como se calcula - apenas interessa perceber se é demais ou não!
Como estas novas do Jornal de Negócios continuam a cativar a minha atenção!?
Mais uma tirada de lá:
Sérgio Figueiredo
"Lucros de papel
sf@mediafin.pt

Os lucros da banca são, depois do futebol, dos temas em que qualquer português consegue ter uma opinião. E é uma opinião mesmo, porque ela é praticamente unânime: são obscenos, os resultados que os bancos apresentam constituem uma verdadeira roubalheira institucionalmente consagrada.
Como é possível, numa economia virtualmente estagnada, com sectores produtivos em depressão profunda, com falências e desemprego, ver ao mesmo tempo um sistema financeiro a respirar saúde com um crescimento de lucros da ordem dos 70%?! Não, de facto, não é possível.
Não é por ser inaceitável. É por não existirem. Pode perfeitamente continuar a indignar-se contra os lucros da banca, mas é bom que saiba que eles não cresceram 70%, como a maioria estupidamente divulgou, mas 29% como o Banco de Portugal já tinha anunciado no Relatório de Estabilidade Financeira de 2005 e a APB vem agora confirmar.
Pois é, antes de questionar sobre o «segredo» que explica aquela enorme diferença, haverá muito boa gente que continua a pensar que 30% ainda é uma taxa suficientemente grande para criar perplexidades. E, ainda assim, perguntar «onde está, afinal, a economia que alimenta tanta prosperidade neste sector e não nos outros?».
A pergunta é razoável, mas a resposta não deixa ninguém sossegado. Ela já foi dada há dois meses pelo governador Vítor Constâncio no Parlamento: se retirar os resultados obtidos pelos nossos bancos no exterior, isto é, tomando apenas em consideração a actividade doméstica da banca, os lucros de 2005 já não crescem à taxa de 71%, sequer de 29%, mas de 8,6%.
É um número que começa a aproximar-se da realidade que conhecemos. Nenhum banqueiro será insultado por apresentar aumentos destes, digamos «normais», dos seus lucros. Mas há uns quantos que, omitindo deliberadamente as mudanças profundas das regras contabilísticas provocadas pelo IAS, andaram a divulgar resultados obscenos. Não por serem demasiado altos, mas por serem virtuais.
As honrosas excepções devem servir de exemplo e, por isso, é de realçar que o Santander Totta e a CGD foram as únicas das grandes instituições que apresentaram resultados numa base comparável. Todos os outros, para impressionar jornalistas e investidores incautos, exibiram lucros de papel e deram um grandessíssimo tiro no pé.
Por três ordens de razão: lançaram combustível para os fóruns populares onde já são insultados; deixaram a opinião pública mais indisposta para aumentos futuros de taxas e comissões; e terão agora dificuldades em explicar os resultados de 2006.
A populaça trata os banqueiros como salteadores do regime. Os mais informados já tinham razões para confrontar o seu banco «se lucras tanto, porque tenho eu de pagar mais». Depois, há um terceiro grupo de pessoas, que sabe que:
a) as bolsas estão a produzir um efeito-IAS ao contrário;b) o crédito dificilmente continuará expandir-se ao ritmo de 10%;c) o rácio de eficiência tem um impacto cada vez mais reduzido;d) a subida dos juros tende a melhorar as margens financeiras, mas também, com desemprego em alta, provoca mais crédito malparado.
E não ficarão admirados se, pela primeira vez em muitos anos, a maioria dos bancos divulgar resultados que não crescem, nem muito, nem pouco, mas que caem em 2006. Problema deles? Não. Problema nosso.
O nosso modo de vida é um edifício que assenta em dívida. A maioria é financiada no exterior. Da qual 60% é assumida pela banca. Os bancos são, portanto, os intermediários entre o que gastamos e aqueles que nos emprestam.
Se a banca é rentável e isso o deixa irritado, se pensa que a crise do país já é grave, nem queira saber o que sentirá no dia em que, do exterior, desconfiarem da solidez do sistema financeiro nacional."

A Man Needs A Maid

Desta poesia popular, que nos alimentou o ego e a esperança nos anos em que mais uma vez renasceu, com a já minha referida musicologia da libertação, um novo Homem, esperemos, para os séculos vindouros!
Como eu gostaria que a minha estimada colega Ana Márcia (que muito gosto me tem dado com os seus poemas, a rubricar a nossa "Literatura") começasse a perceber as minhas 'provocações' literárias, ao enunciar-lhe um rol imenso de fontes poéticas como as que 'ornamentaram' os jardins musicais dos anos 60 e 70 do século passado! Desta vez, um poema (com o respectivo fundo musical, no meu "Pode Ouvir enquanto Lê") do Neil Young (Harvest), e poderá perceber melhor (penso eu que, nesta literatura, os meus horizontes estão bem mais alargados no tempo que os seus) por que este senhor ganhou um prémio (Òscar) para a melhor composição musical ("Filadélfia"), em Holywood (a cuja cerimónia, por acaso, não compareceu ... mas isso já é outra história).
Com uma orquestração como a que acompanha a feitura do álbum, facilmente se poderá compreender que, ao contrário do que à primeira 'vista' parece (dado tratar-se de composições musicalmente não muito elaboradas, estas coisas do folk e do country-rock), grupos como o que acompanham o Neil Young (é o caso dos Crazy Horse) cedo provaram que podem realizar composições musicais com sonoridades sinfónicas - estou também a lembrar-me, por exemplo, do álbum dos Deep Purple que um dia trarei para este espaço, o 'Deep Purple in Concert', gravado no Royal Albert Hall, em Londres, com a London Symphony Orchestra: quem ouvir nem acredita!
Enjoy it ... fully, fully!

A Man Needs A Maid

My life is changing in so many ways
I don't know who to trust anymore
There's a shadow running thru my days
Like a beggar going from door to door.
I was thinking that maybe
I'd get a maid
Find a place nearby for her to stay.
Just someone to keep my house clean,
Fix my meals and go away.
A maid. a man needs a maid.
A maid.
It's hard to make that change
When life and love turns strange.
And old.
To give a love, you gotta live a love.
To live a love, you gotta be part of
When will I see you again?
A while ago somewhere I don't know when
I was watching a movie with a friend.
I fell in love with the actress.
She was playing a part that I could understand.
A maid. a man needs a maid.
A maid.
When will I see you again?

Neil Young - A Man Needs A Maid (Harvest)

terça-feira, 11 de julho de 2006

Syd Barret ... das memórias longínquas

Das memórias longínquas, antes de vermos a "alma" projectada no vazio da razão ... finalmente em casa?
Tenho lido alguma coisa de Syd Barret, um pouco antes de saber, há uns bons anos atrás, que o álbum "Momentary Lapse of Reason" lhe foi dedicado pelos seus colegas de banda. Apenas me apetece saudar a sua memória ... para sempre, guardada na razão que tenho, também, quando sinto que nos provocam a falta dela!...Por isso, tenho que dizer, primeiro, que as notícias não têm de ser sempre boas, ou agradáveis, apenas são interessantes, na minha perspectiva, na apreciação colectiva que, neste sentido, podemos fazer delas. Neste caso concreto, e em segundo lugar, também não saberei distinguir, de forma objectiva, o que será considerado bom ou mau, relativamente ao facto de alguém que falece, na situação que abaixo se descreve, relativamente ao Barret: não será que ele estará melhor, agora? É esta a questão que frequentemente colocamos quando alguém "passa para lá", não é?
(Recebido de TSF - pode ver em pé de página, nas "Notícias Frescas")
"• SYD BARRETT
Morreu fundador dos Pink Floyd
O fundador dos Pink Floyd Syd Barrett, cuja morte foi anunciada esta terça-feira, saiu de cena há mais de trinta anos, mas manteve uma profunda marca na música daquele grupo e o seu súbito desaparecimento transformou-o mesmo num mito.

( 18:25 / 11 de Julho 06 )

Syd Barrett, membro fundador do grupo de rock Pink Floyd, faleceu, aos 60 anos, informou hoje uma porta-voz da formação.«Ele morreu, muito tranquilamente, há dois dias. O funeral será privado», precisou, sem indicar a causa da morte do músico.Nascido em Cambridge em 1946, Roger Keith Barrett, que adoptaria o nome artístico de Syd Barrett, fundou os PinkFloyd em 1965 mas afastou-se do grupo em 1968, por problemas de comportamento ligados ao consumo de drogas.Gravou depois a solo alguns álbuns, entre os quais "The Madcap Laughs" e "Barrett", ajudado pelos seus antigoscompanheiros da banda David Gilmour e Roger Waters.Vivia afastado da ribalta e dos "media" há anos, numa casa nos arredores de Cambridge.Em 1975, os Pink Floyd lançaram "Wish you where here", um disco de homenagem ao antigo companheiro do grupo.Syd Barrett entrou num estúdio de gravação, pela última vez, em 1974, mas «todos os anos continuam a sair livros, discos, colectâneas e DVD sobre ele», realçou à Agência Lusa Rui Tentúgal, um jornalista que tem acompanhado a carreira dos Pink Floyd.«Não há, em relação a Syd Barrett, um culto idêntico ao de Jim Morrison, mas ele ficou associado à imagem de um génio atormentado e louco e tornou-se um exemplo perfeito dos mitos que alimentam o rock», acrescentou.Segundo Rui Tentúgal, a "originalidade" de Syd Barrett assenta no carácter "surrealista" das letras que escrevia e na forma como fez «evoluir os blues para o psicadelismo».«As letras, muito ligadas ao espírito da época, tinham a ver com o mundo dos sonhos e a música incluía longas divagações, que reflectiam a liberdade e a improvisação introduzidas pelo free jazz», explicou."
E, se quiser ouvir, in memoriam, " enquanto lê, ligue no sidebar, com a letra de "Remember a Day (A Saucerful of Secrets), que abaixo se reproduz - tirada do Google, 'Rock Lyrics')

Remember A Day

Remember a day before today
A day when you were young
Renew a play along with time
Evening with a thyme
Sing now a song that can't be sung
Without a morning's kiss
Dream you shall be it if you wish
Look for your king
Why can't we play today
Why can't we stay that way
Climb your fatal apple tree
Try to catch the sun
Hide from your little brother's gun
Dream yourself away
Why can't we reach the sun
Why can't we blow the years away
Go away
Remember remember

Pink Floyd - Remember a Day (A Saucerful Of Secrets)

domingo, 9 de julho de 2006

Para uma História Poética do 'Rock'?

E porque não fazer-se uma "História da Literatura Poética do Rock"?
Carole King tem, objectivamente, um estilo musical bastante característico, tanto melódica como ritmicamente considerados. Mas esta senhora merece que lhe façam justiça ao escutá-la, como parece pedir nalgumas letras suas, com profundidade e concentração, ao ponto de percebermos que, mesmo na simplicidade das "palavras", pode residir a mais maravilhosa mensagem de amor. Eis aqui um dos meus tributos, em homenagem às recordações que este como outros trechos seus nos podem trazer, valendo bem a pena ser partilhado.
Some Kind Of Wonderful
All you have to do is touch my hand
to show me you understand
and something happens to me
that's some kind of wonderful
anytime my little world is blue
I just have to look at you
and everything seems to be
some kind of wonderful
I know I can't express
this feeling of tenderness
is so much I wanna say
but the right words just don't come my way
I just know when I´m in your embrace
this world is a happy place
and something happens to me
that's some kind of wonderful
somekind of wonderful
somekind of wonderful, wonderful
oh somekind of wonderful
(A poder ser ouvido "enquanto lê", no 'sidebar')

Carole King - Some Kind Of Wonderful (Music)

Sobre a corrupção da ... Revolução!(?)

Óh ... Senhor General! Vá lá, tire mais um cravo à "revolução"!
Para ver se a malta, de uma vez por todas, "abre mais os olhos"! OK? Seria um grande contributo para a cidadania, se desse umas "bicadas" destas, pelo menos de vez em quando!
Eu também já tenho tido processos disciplinares por bem menos do que isso, e que é preciso ter cuidado com algumas "vacas sagradas" da nossa praça pública, lá isso também subscrevo, porque também por aí já tenho "comido no corpo", que é como quem diz, temos de ter cuidado com quem usamos a nossa liberdade de expressão, produto de consumo de, apenas, alguns estratos sócio-económico mais elevados, pois a democracia que temos só se serve em pratos de "boas mesas" ...!
Mais uma tirada, da "última" do JN de Sábado, por
Paulo Martins
(eh pá, há por aí tantos Paulos Martins jornalistas!? Eu, por exemplo, tive um, colega do ISCSP ..., o "Jó-Jó"...)
"Foi uma asneira acabar com a JAE"
Garcia dos Santos General, antigo presidente da JAE
Outubro de 1998. O general Garcia dos Santos, ex-presidente da Junta Autónoma de Estradas, denuncia ao Expresso a existência de corrupção no organismo. "Quase de certeza absoluta que o Governo sabe quem são as pessoas corruptas", afirma, levantando suspeitas de financiamento partidário ilícito. Cai o Carmo e a Trindade. O ministro João Cravinho, que o nomeara para o cargo, chega a chamar-lhe "inconsequente mental". Uma sindicância posterior viria a confirmar ilegalidades. Porém, quem pagou foi Garcia dos Santos. Pagou mesmo - uma multa de 675 euros por se recusar a revelar, perante a comissão parlamentar, nomes de empreiteiros envolvidos em corrupção. O general não voltou a dirigir a palavra a Cravinho. "Reconheço que sou uma pessoa impulsiva. Não sei fingir o que não penso", diz. Do episódio, retém a convicção de que "foi uma tremenda asneira acabar com a JAE", decisão que o antigo governante socialista viria a tomar, por se perder património um valioso histórico e técnico. "Não duvido da honestidade e da competência do engenheiro Cravinho. Mas ele não teve coragem para levar em frente o que queria".Garcia dos Santos, que aos 71 anos continua a trabalhar como engenheiro civil, é co-gerente de uma empresa de geotecnia e topografia. Militar de Abril - "dos mais velhos entre os conspiradores", porque em 74 já era tenente-coronel - foi o responsável pelas transmissões, componente decisiva para o êxito do golpe. Secretário de Estado das Obras Públicas nos 2º, 3º e 4º governos provisórios, liderados por Vasco Gonçalves, voltaria ao cargo no 6º. A "diabólica" actividade - "não éramos ajudantes de ministros", ironiza, aludindo ao "estatuto" que Cavaco conferiu aos secretários de Estado - afastou-o do fervilhar político do PREC. Ainda assim, subscreveu o "Documento dos 9" e participou no 25 de Novembro.O conflito com Cravinho não foi o primeiro que travou com políticos. Em 1982, o primeiro-ministro, Mário Soares, recusou ratificar o seu nome como chefe de Estado-Maior do Exército, proposto por Eanes, com quem tinha contas a ajustar desde a exoneração do Governo PS-CDS. "Senti-me uma bola de pingue-pongue", recorda o general, que fora chefe da Casa Militar do presidente. O braço-de-ferro arrastou-se até Novembro de 1983. Por insistência sua - e para evitar uma crise política - Eanes acabou por demiti-lo.Garcia dos Santos é que não esqueceu. Mais tarde, deixou Soares de mão estendida na sessão de cumprimentos de uma cerimónia em Belém. Chegou a discutir-se se deveria ser preso, por desrespeitar o chefe de Estado.Nada que o preocupasse "Quem mas faz, paga-mas".
Paulo Martins

sexta-feira, 7 de julho de 2006

Revisitando a poesia dos Pink Floyd

Fazendo nova incursão nos meus modestos horizontes poéticos,

Apenas me apetece revisitar a afectividade da mensagem dos Pink Floyd, recordando sensações de sempre na construção do sonho de quem quer ser feliz, pensando que vive como pensa!(?)
E, num sincero pedido de desculpas à Ana Márcia pela minha ignorância em Literatura Inglesa, ou não teria eu pensado o que lhe disse (dado, como diz, tratar-se de realidades literárias diversas, e não retratos da sua personalidade - e, reconhecidamente, concordo), fico-me pela nostalgia com que os dois trechos do "More" (Pink Floyd, n' "O que pode ouvir enquanto lê") nos embalam, e que merecem uma tentativa de tradução.

Green Is The Colour

Heavy hung the canopy of blue
Shade my eyes and I can see you
White is the light that shines through the dress that you wore
She lay in the shadow of a wave
Hazy were the visions overplayed
Sunlight in her eyes, but moonshine made her cry every time
Green is the colour of her kind
Quickness of the eye deceives the mind
Envy is the bond between the hopeful and the damned

Cirrus Minor

In a churchyard by a river
Lazing in the haze of midday
Laughing in the grasses and the graves
Yellow bird you are not lonely
In singing and in flying on
In laughing and in leaving
Willow weeping in the water
Waving to the river-daughters
Swaying in the ripples and the wreaths
On a trip to Cirrus Minor
Saw a crater in the sun
A thousand miles of moonlight later

Pink Floyd - Green Is The Colour (More)

A burocracia do (sub)desenvolvimento

Ainda a propósito de "Simplex"ficações, cá vai mais um indicador de um dos nossos três D's (o do desenvolvimento !???!):
(Retirado do PUBLICO.PT)
"Tecnologia
Portugal em 14º lugar nas oportunidades digitais entre os Quinze da UE antes do alargamento
06.07.2006 - 21h42 Lusa

Portugal está 14º lugar entre os Quinze da União Europeia (UE) anteriores ao alargamento, apenas à frente da Grécia no índice de oportunidades digitais, que pretende medir a facilidade de acesso dos cidadãos às tecnologias de informação e comunicações (TIC), tanto em disponibilidade como em preço. E fica em 25º lugar entre 40 países europeus (média de 0,55).
O índice, desenvolvido pela União Internacional de Telecomunicações (UIT), uma agência das Nações Unidas, varia entre 0 e 1, significando o nível zero que não há nenhum acesso à sociedade de informação e o 1 que as TIC são totalmente acessíveis aos cidadãos.Entre os 180 países do índice, fica em 41º lugar. O índice para Portugal é de 0,52, o que coloca o país com um razoável acesso às tecnologias da informação e comunicações.À frente de Portugal ficam também países do alargamento da UE, como a Estónia, Eslovénia, Malta, Lituânia, Hungria, Chipre, Eslováquia e Polónia (esta com um índice semelhante ao português), o que coloca Portugal em 22º lugar na UE.O índice tem um valor médio de 0,37 a nível mundial, ocupando os primeiros lugares a Coreia do Sul (0,79), Japão e Dinamarca (0,71) e Islândia, Suécia e Hong Kong (0,69). O índice para os Estados Unidos é de 0,62, o que lhe confere o 21º lugar no ranking mundial.O ranking europeu tem quatro países nórdicos entre os cinco primeiros: Dinamarca (0,71), Islândia e Suécia (0,69) e Reino Unido e Noruega (0,67).A Guiné-Bissau surge com o quarto pior lugar, com um índice 0,04. Entre os países de língua portuguesa, o segundo pior é Moçambique, no 169º lugar (índice 0,09), imediatamente abaixo de Timor-Leste (0,10), enquanto o Brasil ocupa o 71º lugar (índice 0,42), Cabo Verde 107º (0,33) e Angola 135ª posição (0,21)."

O que significa "terrorismo"?

Fiquei a perceber, ainda mais conscientemente, o que significa terrorismo!
Dado que, ao receber um post do nosso companheiro "O Jumento",
"QUAL A DEFINIÇÃO DE TERRORISMO?
[+]
Nestes tempos conturbados em que tanto se fala de terrorismo umas das maiores dúvidas que tenho é precisamente saber o que é terrorismo, e por aquilo que se lê parece que ser terrorista é não usar uma farda de um exército. Se uma bomba rebenta depois de ter sido colocada ou transportada por alguém que traja à civil estamos perante um caso de terrorismo, mas se um obus foi disparado por um exército caindo no mesmo local e fazendo o mesmo número de vítima, é um dano colateral ou, na melhor das hipóteses, um erro que vai ser investigado.
Para mim terrorismo é toda a forma de fazer uma guerra ou combater um exército inimigo recorrendo a técnicas que visam criar terror e vítimas entre civis, para dessa forma obter vantagens militares.
É evidente que quem matou ou feriu a criança que se vê na imagem vai ser cínico ao ponto de nem falar de erro ou dano colateral, vai dizer que a criança foi mandada por terroristas, muito provavelmente o pai, para ser usada pela comunicação social. Eu não sei o que chamar a isto, mas se fosse meu filho é muito provável que também eu viesse a ser um terrorista."

me cumpre participar no debate sobre o tema com a remissão para um dos livros do noso "Politilendo", em que o meu ex-mestre na Ciência Política Prof. Doutor Adriano J A Moreira é co-autor e coordenador:
"(...) Tem interesse averiguar porque é que uma sociedade internacional submetida durante meio século a um equilíbrio pelo terror, anunciado pelas armas estratégicas à disposição dos Pactos Militares, foi abalada ao ponto de geralmente se entender que se iniciou uma nova época em 11 de Setembro de 2001, a partir de uma agressáo que horrorizou o povo americano e o mundo ocidental, mas que não tem a dimensão de Hiroshima ou Nagasaki.
(...) Aquilo que parece resultar da análise não é a diferença de efeitos procurados, é sim apenas a diferença de titulares da acção, e de diferentes objectivos, mas sempre a submissão ao temor.(...)"
[1]

[1] MOREIRA, A J Alves (Coordenador), et al., Terrorismo, Almedina, Coimbra, 2004, pág. 124.

quinta-feira, 6 de julho de 2006

Mais um 'coice' na fachadocracia

A fachadocracia do fado português cantado pelo estado a que chegámos!
Há quem lhe chame 'marketing político', mas eu pefiro a designação folquelórica de fachadocracia, nesta sociedade definida no calão futebolês dos lusos poderes erráticos de um regime senhorial cujos domínios se espraiam, como na medieva outrora, pelos feudos sucessores de um Império que não conseguiu suster a barbárie caciqueira!
Viva o sultanato da Madeira!? Viva!
Viva o protectorado do Algarve!? Viva!
Viva o condado do binho fino!? Viva!
Viva o a república islâmica do deserto interior!? Viva!
Viva o movimento de libertação socialista?! Viva!
Viva a liga gay internacionalista?! Viva!
Viva a república dos mouros?! Viva!
Viva a bimbalhada!? Viva!
Viva tudo o que é "pimba"!? Com certeza, é uma casa portuguesa! Não é?!!!
E tudo isto pelo complemento que "O Jumento" trouxe às minhas cogitadelas! Ora ...! Hã, falam, falam, falam ... e ... deixo-vos com mais um "coice":
"2006-07-06
AFINAL NÃO ERA SIMPLEX
Na primeira avaliação da execução do SIMPLEX o governo reconhece que um quarto das medidas está atrasado. Se considerarmos que uma boa parte delas são simbólicas, que algumas já estavam a ser desenvolvidas ainda antes de Sócrates imaginar que conseguiria chegar a secretário-geral do PS, e que outras tantas constavam nos planos de actividade dos serviços que Sócrates decidiu converter em programa pós eleitoral, podemos concluir que é muito atraso. Mesmo que sejamos optimistas e sigamos a sugestão de Vital Moreira e consideremos que o governo alcançou três quartos dos seus objectivos não deixa de ser significativo.E resta saber quais os custos do SIMPLEX pois com recursos escassos a subserviência de muitos dirigentes leva-os a fazerem de tudo para conseguira simpatia do poder, levando-os a desviar recursos para os projectos do SIMPLEX, porque mais importante do que modernizar os serviços é conquistar o coração do primeiro-ministro. Pouco importa a qualidade do que se faz (como sucedeu com a desastrosa cobrança do imposto municipal sobre os veículos), o que interessa é agradar e para isso a solução mais prática é recorrer às consultoras externas e pagar-lhes o trabalho a peso de ouro.O Estado português é um prédio velho e que solução encontrou Sócrates para o modernizar? Reduzir os residentes com a mobilidades, limpar e pintar a fachada com o SIMPLEX e alterar o interior derrubando umas paredes. E quem lá mora passou a viver com o receio de que lhe caia uma parede ou mesmo o tecto em cima.Reformar o Estado não é simples e muito menos SIMPLEX."

"O perplexo Mibel"

Volto a sentir a necessidade de nos acharmos orgulhosamente sós, com a vergonha hipócrita dos meandros da nomenclatura futeboleira internacional e os maus ventos de Espanha, e gritar: PORTUGAL!
Como este Jornal de Negócios tem gente que ... escreve!

Sérgio Figueiredo

sf@mediafin.pt
"O perplexo Mibel

O Mibel é complexo, o Mibel é um mistério, o Mibel é uma construção política, o Mibel é um projecto sucessivas vezes adiado, o Mibel é a sigla que significa Mercado Ibérico de Electricidade.
O Mibel é tudo isto, mas ainda lhe faltam duas coisas: ser um mercado e ser ibérico. Ou seja, o essencial. Não tem, portanto, significado algum.
O Mibel é assunto de especialistas, mas a razão da sua existência sempre foi fácil de compreender: abolir a fronteira energética entre Portugal e Espanha era o primeiro passo para destruir o monopólio português e o oligopólio espanhol.
Criando, em alternativa, um sistema de mercado efectivo, em que fornecedores e compradores de electricidade se encontravam no local mais transparente possíveis – uma bolsa de transacções. Aliás, duas: a OMIP, em Portugal, para o mercado a prazo; a OMEL, em Espanha, para as transacções diárias.
Portanto, mesmo para o mais ignorante dos leigos, não havia dúvidas de que os preços da electricidade iriam baixar para as famílias e industriais portugueses, porque a uniformização tenderia a normalizar os níveis das tarifas, incomparavelmente mais altas, em qualquer tipo de consumidor no nosso caso.
Várias declarações ministeriais podem, aliás, ser recuperadas, das várias cimeiras luso-espanholas que assinalaram o arranque do Mibel, os vários arranques que o Mibel teve, que colocavam esse desiderato de forma peremptória e inequívoca.
Pois bem, esta semana o pólo português do Mibel finalmente arrancou. Por cá, sem pompa e circunstância. Arrancou, com uma média de duas transacções diárias, mas não é nesse pífio arranque que reside o maior dos dilemas. O Mibel nasceu fraco, mas honrado. O problema é que alguém se esqueceu de avisar os espanhóis que o mercado ibérico.
Na sexta-feira, e na sequência de uma enxurrada legislativa autónoma, ditada exclusivamente por preocupações e objectivos de natureza interna, o Governo espanhol decidiu comemorar o nascimento da bolsa portuguesa de electricidade à sua maneira. E anunciou a fixação de limites aos preços dos contratos que lá são negociados. O «lá» é, bem entendido, «cá».
Na verdade, num mercado que se chama ibérico, não deveria haver «lá» nem «cá». E é um facto que, em Madrid, já ninguém faz essa distinção, porque tudo é definido lá. A Espanha tem os seus problemas e está a resolvê-los da forma que entende.
E, pela reacção do regulador nacional, está a fazê-lo ignorando olimpicamente os pacóvios que, do lado de cá, continuam a acreditar que o Mibel existe. Jorge Vasconcelos, o presidente da ERSE, revelava ao jornal «Público» a sua «maior perplexidade» pela atitude unilateral do Governo espanhol.
A declaração é obviamente diplomática. O eng. Vasconcelos será o último a ser surpreendido pelo comportamento, que não é possível adjectivar por uma questão de pudor, de «nuestros hermanos». O regulador português podia não estar prevenido para um tão flagrante descaramento. Mas a atitude não é nova.
A ERSE esteve entre os que anunciaram a morte do Mibel, em Fevereiro deste ano, quando Zapatero publicou em decreto real a mais descarada intervenção administrativa nos preços da electricidade que se transaccionava na bolsa espanhola.
Cada um tem os governos que merece e os espanhóis é que devem avaliar o seu. Da parte que nos toca, continuaremos a exigir do nosso aquilo que lhe compete fazer: uma explicação convincente. Ou muitas. Ou nenhuma, para o caso de não a ter. E, sendo esse o caso, provar que as soberanias ainda servem para alguma coisa: desejar aos espanhóis o maior dos sucessos na resolução da sua agenda, decretar o fim de uma fantasia e tratar do nosso mercado a sério. Enquanto 90% da produção nacional estiver no regime regulado, nem a brincar se deve falar de mercado."